A Comissão Temporária de Equidade e Diversidade do CAU/RJ promoveu, na quinta-feira, 15 de junho, webinar para debater a importância da saúde no campo da Arquitetura e Urbanismo. O encontro contou com duas convidadas: a vice-presidente do Conselho Tanya Collado e a representante da FeNEA Fernanda Gomes.
Na abertura do evento, a coordenadora da comissão, arquiteta e urbanista Alyne Reis, destacou a importância do debate e que a iniciativa visa a promover um momento de troca para discutir e compartilhar experiências, ferramentas para preservação da saúde e do bem-estar, desde a graduação até o pleno exercício profissional. “Como conseguimos trabalhar e ser produtivos de maneira que preserve nossa saúde mental? A proposta do evento é justamente provocar essa reflexão”, disse Alyne.
Tanya acompanha há algum tempo as discussões sobre saúde mental no âmbito da academia. A vice-presidente do CAU/RJ relatou que há um número de casos elevados de transtornos mentais não apenas entre alunos, mas também professores e coordenadores. “Trata-se de uma herança que trazemos desde a graduação e nos acompanha na vida profissional. Precisamos aprender e respeitar nossos limites. Levar o nosso corpo ao extremo pode gerar ansiedade e o desenvolvimento da síndrome de burnout (distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante)”, explicou. Ainda de acordo com Tanya, o arquiteto e urbanista, como mente criativa, lida bem com o caos criativo. Assim, deixa acumular trabalhos para última hora e acredita que é na pressão que surgem as grandes ideias. Trata-se de um erro e um vício que se reforça ainda na graduação. “Existe o caos criativo, mas esse caos, dentro do processo de criação, precisa ter um volume administrável, e esse volume é o quanto o aluno da graduação dá conta em um conjunto dos próprios projetos”, esclareceu Tanya.
Lucineia Lopes levou ao webinar dados de uma pesquisa de 2014 da Universidade de Toronto (clique aqui). “Nesse estudo, os alunos admitiram que desenvolveram mau hábitos, como privação de sono e pular refeições para terminar os projetos no prazo. Apesar de estarmos falando de Toronto, no Brasil esses números são alarmantes. Pesquisa da Unicamp de 2016 aponta que 97% dos alunos ouvidos pelo estudo deixaram de se alimentar corretamente ao longo do curso e 100% deixaram de dormir por conta dos projetos”, alertou Lucineia. A conselheira lembrou ainda as mudanças na estrutura de ensino, com os modelos à distância de ensino.
Fernanda Gomes, enquanto estudante de graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense (UFF), tem a experiência prática da cobrança e exigência do curso. Para manter sua saúde mental, a estudante acredita muito no autoconhecimento. “Desde que entrei no movimento estudantil busco formas e estratégias para não deixar que isso (estresse) tome conta da gente. Tanya trouxe algumas respostas, mas o principal é a conscientização. Às vezes, na graduação, parece que tudo é a última coisa que vai fazer ou defender. Pensando também nos diferentes estágios de períodos do curso, as apreensões vão em níveis diferentes. Essas apreensões geram diferentes consequências mentais”, disse. Fernanda destacou ainda o papel dos professores em sala de aula. “Muito do que o professor fala, a gente leva como lei durante a graduação. Isso nem sempre é saudável”, ressaltou. Para a estudante, a virada de chave ocorreu quando se conscientizou de que não precisa fazer necessariamente aquilo que o professor fala. “Aquele espaço (sala de aula) tem que ser muito mais de absorção do que entrega”, destacou.
A arquiteta e urbanista Monique Ferraz, que há 15 anos atua no mercado de trabalho como autônoma, e mais recentemente entrou também na carreira acadêmica, fez o contraponto em relação ao profissional. Ela lembrou que os autônomos, maioria dos profissionais em atividade, lidam com várias pressões, desde a falta de proteção trabalhista, captação de clientes e o próprio trato com o cliente, que muitas vezes não entende que o profissional pode estar passando por alguma situação complexa em algum momento. “Arquiteto e urbanista não ter final de semana é inadmissível. Precisamos nos posicionar como indivíduo e grupo. Precisamos do tempo de descanso. Já tive caso em que a cliente surtou na obra e correu atrás de mim. Imagina o tempo que precisei para me recuperar?”, questionou.
Ao término do evento, Alyne falou que a live foi apenas o primeiro momento para discutir o tema da saúde mental. A comissão promoverá novos encontros e momentos de troca, com convidados especialistas e colegas para que possam compartilhar experiências.
Assista, abaixo, como foi o webinar Saúde Mental promovida pela Comissão de Equidade e Diversidade do CAU/RJ.