O CAU/RJ e o Clube de Engenharia do Rio de Janeiro realizaram na sexta-feira, 23 de junho, debate acerca da instalação da tirolesa e do parque temático no Pão de Açúcar, patrimônio da cidade, com a participação da empresa gestora do projeto. O CAU/RJ foi representado pelo presidente Pablo Benetti e pela coordenadora da Comissão de Política Urbana (CPU), Rose Compans.
Coube a Guto Índio da Costa, sócio da empresa homônima, apresentar a proposta. O projeto é dividido em três partes, tirolesa, reforma do prédio da Praia Vermelha e revitalização do Morro da Urca, segundo plano diretor que vai definir a organização do parque. Após exibir uma série de importantes realizações do escritório ao longo de mais de 30 anos na cidade do Rio de Janeiro, Guto reforçou a relevância deste tipo de empreendimento através de exemplos de outras tirolesas em diferentes partes do mundo.
A coordenadora da CPU do CAU/RJ, Rose Compans, criticou o processo de licenciamento do projeto, sem consulta à população, como numa obra privada. “Nós temos o maior respeito pelo escritório do Índio da Costa, pela qualidade do que já foi feito. O escritório está aqui, mas quem deveria responder por um bem público, um monumento natural tombado, são as autoridades públicas, é o prefeito, é o governador”, cobrou. “Nenhuma atividade turística ou comercial pode estar acima de um patrimônio que pertence a toda a população”, acrescentou Compans.
A engenheira, arquiteta e urbanista Paloma Yamagata deu início à rodada de perguntas. Em sua fala, ela reforçou que o projeto apresentado foi modificado muitas vezes e questionou a transparência e acesso ao público. Paloma destacou que o Pão de Açúcar é área tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), não podendo em caso algum ser alterado ou modificado, segundo o decreto 25 de 1937. A arquiteta e urbanista também questionou como um espaço reconhecido como patrimônio mundial pela Unesco pode ser alterado sem sequer ser ouvida a opinião da sociedade civil. O vereador Edson Santos (PCdoB) também destacou a importância do patrimônio público ser de interesse coletivo e não poder ser administrado como demarcação individual sem a permissão da sociedade.
Entre muitas interrupções e ávidas manifestações do público presente foi ressaltada a mutilação das rochas e alteração da paisagem. A empresa exibiu modelos de passarelas suspensas e defendeu que sua intervenção no solo é mínima alterando pouco o cenário ao redor. Guto Índio da Costa reforçou que o sistema é silencioso, sem motores e barulho, causando nenhum impacto de poluição sonora ou visual. O argumento foi confrontado com a insistente questão sobre a perfuração nas rochas, um dos motivos que causou a paralisação das obras.
A polêmica sobre o tema parece estar longe de acabar. A empresa Índio da Costa prometeu enviar o projeto para apreciação ao Clube de Engenharia e todos os interessados prometem intervir com objetivo de preservar o Pão de Açúcar como patrimônio público da cidade do Rio de Janeiro.