Projetos selecionados no Edital de Athis são apresentados em Fórum
22 de novembro de 2019 |
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A segunda edição do Fórum Permanente de Fomento à Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social contou com debates e apresentação dos projetos contemplados no Edital de Athis de 2019. O evento foi realizado na sede do CAU/RJ, no dia 14 de novembro. As palestras foram realizadas por Silvia Baptista, articuladora do Plano Popular das Vargens; da assistente social Aline Rocha, ex-diretora financeira da ONG Soluções Urbanas e os arquitetos e urbanistas Cleuber Junior e Renan Grisoni, da ONG Onze8.
Aline Rocha falou sobre o trabalho de um assistente social em ações de Athis. Segundo ela, as decisões dos moradores sobre onde colocar janelas, por exemplo, podem estar relacionadas a questões como o tráfico de drogas ou violência doméstica. “Pensar na moradia e na família é não fragmentar a vida”, resumiu. A ex-diretora financeira da ONG Soluções Urbanas também contou sobre o trabalho da organização e das estratégias para viabilizar as reformas. “O Arquiteto de Família tinha 100 projetos, apenas 6 executaram a obra. Depois da estratégia de viabilização, com a feira de trocas, foram feitas 64 obras. O que seria resíduo, virou insumo”, contou.
Cleuber Junior e Renan Grisoni trouxeram para o encontro a experiência da Onze8 na Região Metropolitana de Vitória, Espírito Santo, desde o começo no escritório modelo Célula, da Universidade Federal do Espírito Santo. A Onze8 trabalha com dois bancos comunitários que fornecem crédito habitacional. Eles explicaram que a liberação do crédito é avaliada coletivamente pelos moradores, o que gera um nível muito baixo de inadimplência. A organização faz pequenos projetos com custo de cerca de R$ 3 mil reais.
“Quando vejo uma experiência belíssima de 20 anos, como a da Onze8, eu tenho esperanças”, afirmou Silvia Baptista, que também integrou a mesa de debates. Ela demonstrou seu estranhamento em ser convidada para o Fórum de Athis, já que participa de um projeto contemplado no Edital de Patrocínio Cultural de 2018, o Morar e Plantar na Metrópole. Silvia falou um pouco sobre o projeto, que busca conectar e narrar as experiências de áreas de produção de agricultura familiar da zona oeste do Rio. “A agricultura urbana diz respeito à luta pela terra na cidade”, ponderou.
Edital de Athis 2019
Os contemplados no edital de Athis deste ano, apresentaram suas propostas. Segundo a coordenadora da Comissão de Athis, Maíra Rocha, o objetivo era o de balizar as oportunidades e desafios dos trabalhos nessa área tão complexa quanto estimulante.
O arquiteto e urbanista Augusto César Alves, que coordena o projeto Ecovila Maricá, falou sobre o trabalho que pretendem desenvolver. O Movimento Nacional de Luta pela Moradia em Maricá possui quarenta famílias cadastradas que pleiteiam um assentamento nas terras da Fazenda IBIACI, desapropriada pela prefeitura para a implantação de núcleo de produção agrícola familiar.
O objetivo do projeto é capacitar a mão de obra dos integrantes da comunidade, oferecendo diversas possibilidades de construir, utilizando recursos sustentáveis. Augusto César contou que serão oferecidas seis oficinas, uma a cada mês, sempre aos fins de semana, para possibilitar a participação dos moradores. As oficinas serão de bioconstrução, telhado verde e captação de águas pluviais, bloco de solo cimento, cascaje (técnica de cobertura estrutural de baixo custo), tratamento alternativo de esgoto sanitário (BET) e revestimentos artísticos e sustentáveis.
O ambientalista Sérgio Ricardo e a moradora Fátima Mendes explicaram o projeto que será realizado na Comunidade Vila da Lagoa, no Itanhangá. “Os moradores apontaram três problemas principais na região: a falta de saneamento, drenagem urbana e a destinação incorreta do lixo. Ninguém quer pisar na lama de manhã para levar o filho ao colégio”, afirmou Sérgio Ricardo. A Vila tem 16 edificações e abriga cerca de 60 famílias.
A arquiteta e urbanista Claudia Yamada, ao lado de representantes indígenas foi a responsável por apresentar o projeto Oka – Aldeia Teko Haw Maraka’nà, a ser realizado na Aldeia Maracanã. “As oficinas oferecidas vão proporcionar um intercâmbio entre o conhecimento dos arquitetos e urbanistas e as tecnologias indígenas”, disse. “O objetivo é a reconstrução do patrimônio, que não é nosso, é do povo brasileiro e da União”, afirmou o cacique Urutau Guajajara.
Entre os objetivos do projeto estão a realização de ações que sensibilizem a população e o poder público sobre o direito à moradia da população indígena e a difusão do modo de viver e seus conhecimentos tradicionais e culturais através da arquitetura indígena e dar apoio à organização espacial por meio de um plano de ocupação buscando fortalecer a permanência do grupo frente à ameaça de remoção.
O projeto Habitar São Cristóvão: moradia popular e luta contra a remoção na Vila 59 e 65 foi exposto pela arquiteta e urbanista Poliana Monteiro e pela moradora Thais Souza. A proposta também surgiu a partir de uma demanda que se relaciona com a remoção forçada e tem sido elaborada ao longo de um ano, com apoio do Núcleo de Terras da Defensoria Pública do Rio de Janeiro. “Tentar garantir a moradia na região central do Rio é mais que necessário, é um projeto que o CAU tem abraçado de forma bonita e estou muito feliz de ter um Conselho que nos contempla dessa forma”, afirmou a arquiteta e urbanista. Ela também destacou que a mobilização dos moradores da comunidade é uma das tarefas mais desafiadoras do trabalho.
Criado pela Comissão Temporária de Athis do CAU/RJ em junho de 2018, o Fórum de Athis visa a fomentar o encontro e o debate entre órgãos e instituições públicas com a sociedade civil organizada e com os profissionais de arquitetura e urbanismo, bem como de outros campos temáticos que igualmente atuam no campo da assistência técnica em habitação de interesse social.