Os principais desafios enfrentados pelos jovens arquitetos e urbanistas brasileiros
13 de dezembro de 2021 |
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De acordo com o CAU Brasil, no país há mais de 208 mil arquitetos e urbanistas em atuação e 729 instituições de ensino superior de Arquitetura e Urbanismo. As novas gerações de profissionais, além de encontrar um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, enfrentam inúmeros desafios, não apenas aqueles relacionados à sociedade contemporânea, mas principalmente dentro do próprio campo profissional.
O coordenador da Comissão de Exercício Profissional (CEP) do CAU/RJ, Rodrigo Bertamé, explica que programas governamentais com foco na formação profissional como o REUNI, PROUNI e a adoção do sistema de cotas possibilitaram uma grande mudança no perfil dos profissionais formados, realizando uma mudança nos códigos e modos de fazer e pensar o espaço, uma vez que esses jovens arquitetos inserem nos modelos tradicionais de pensar a construção e a arquitetura suas referências empíricas.
“Diferente de outros tempos, temos cada vez mais recém-formados advindos de regiões periféricas do estado, regiões como Baixada Fluminense, subúrbios e favelas, por exemplo. Esses jovens arquitetos e urbanistas discutem mobilidade urbana somando a teoria aprendida das universidades com a vivência de quem precisava pegar dois ou três transportes públicos de qualidade duvidosa para chegar na aula ou no trabalho. São jovens que precisam projetar com um computador de baixa capacidade, pois não têm recursos para ter um equipamento de ponta capaz de rodar os programas mais pesados que monopolizam o mercado. Os modos de bater laje na favela são distintos dos modos de bater laje de uma mega construtora, o tempo de construir sua habitação também é”, diz Bertamé.
O coordenador da CEP – CAU/RJ esclarece que, diferentemente da realidade profissional vivida em inúmeros países da Europa, o Brasil tem passado por uma imensa crise humanitária e econômica, o que interfere profundamente os desafios enfrentados pelos jovens arquitetos e urbanistas do país: “Nosso desafio hoje é repensar como trabalhar os modos de fazer arquitetura para que a demanda da população que mais necessita de melhorias espaciais, em todas as escalas, desde a reforma do banheiro ao planejamento urbano, seja abraçada por esta força de trabalhadores da arquitetura. A assistência técnica como um serviço público cumpre parte deste papel ao universalizar o direito do cidadão mais pobre a ter melhorias habitacionais. Ela, porém, pode ser complementada por um movimento de popularização da profissão, o que depende de uma construção conjunta entre entidades profissionais, sociedade civil e os conselhos”.
Segundo Bertamé, a capacidade de se sensibilizar e harmonizar os saberes técnicos da formação arquitetônica com os saberes populares é uma característica dos novos profissionais que pode ajudá-los a superar os desafios contemporâneos do mercado arquitetônico. “Precisamos retornar aos saberes do povo que autoconstrói, ao canteiro, ter um contato mais cotidiano com outros profissionais do ramo da construção civil, além de repensar e fomentar os valores éticos e estéticos que as redes de vivências periféricas proporcionam na construção da sociedade. Assim, podemos pensar na arquitetura com uma nova intenção, que não repita mais o estigma de ser um item de luxo, e se torne uma importante ferramenta de fortalecimento simbólico e material da sociedade, em especial dos mais pobres.”