O projeto de revitalização de ruas do Centro de Búzios é alvo de críticas de arquitetos e urbanistas e da população local. Além da substituição do tradicional piso de paralelepípedo por blocos de concreto, menos duráveis, as calçadas estão sendo niveladas com as ruas, o que coloca em risco pedestres.
Com valor global de R$ 6.588.107,02, a revitalização prevê a recuperação das Ruas Manoel José de Carvalho, César Augusto Luís Joaquim, Rui Barbosa, Felipe Gustavo, Lúcio Quintanilha, Germiniano José e Travessas Oscar Lopes e dos Pescadores. A obra, que ocorre sob supervisão da Secretaria Municipal de Obras, Saneamento e Drenagem de Búzios, foi denunciada ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro pelo vereador Raphael Braga. Para o parlamentar, a iniciativa traz aspectos negativos ao Centro Histórico da cidade.
Fórum das Entidades Civis de Armação de Búzios (Fecab) lançou abaixo-assinado (clique aqui) para sensibilizar o poder público a adotar um projeto humanizado ao centro histórico da cidade, que privilegie pedestre, projeta a ambiência e o patrimônio cultural local. “Faz tempo que todos queremos melhorias urbanas no Centro Histórico de Búzios, com calçadas largas e desimpedidas, iluminação adequada, arborização, paisagismo, fiação subterrânea, bancos, lixeiras, travessias seguras para os pedestres. No entanto, o que está sendo feito está distante disso. O piso tradicional de paralelos vem sendo arrancado e substituído por plaquinhas de concreto, muito menos duráveis e um convite à aceleração dos carros”, diz trecho do abaixo-assinado do Fecab.
O Núcleo Búzios do Departamento Rio de Janeiro do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ) e arquitetos e urbanistas da Prefeitura de Búzios elaboraram estudo, propondo a revitalização do Centro, com manutenção da pavimentação existente, entre outras ideias que garantem a autenticidade da região, diferenciando-a de outros destinos turísticos.
Em entrevista ao telejornal SBT Rio, o arquiteto e urbanista Hélio Pellegrino criticou a obra em andamento. “Isso pasteuriza e tira a identidade do lugar. Imagino eu, com minha mulher, carrinho de bebê e crianças. Como vamos passar numa rua que não tem nenhuma legenda que permita caminha em paz?”, questionou. Para a arquiteta e urbanista Helena Oestreich, quem reforma não deforma. “Não é transformar em outra coisa. É dar mais valor ao que já tem”, disse.
Em março deste ano, o prefeito Alexandre Martins lançou enquete nas redes sociais sobre o tipo de pavimento preferido pela população. Na ocasião, o Núcleo Búzios do IAB-RJ divulgou nota preocupado com a restrição da participação popular no projeto de revitalização do Centro, limitada às redes sociais. O documento, assinado conjuntamente pelas arquitetas e urbanistas Katia Pirá, Helena Oestreich e Miriam Danowski, dizia que a questão é mais complexa do que apenas escolher o tipo de piso a ser usado.
“Se já existe uma discussão para enterrar o cabeamento, por que isso não está sendo previsto nesse projeto? Vão retirar os postes? Poderiam, ao menos, prever a infraestrutura. Da mesma forma, não é incorporado o projeto paisagístico. Não se sabe nada do mobiliário urbano. Num corte esquemático, ficamos sabendo que vão nivelar a calçada com a rua. Nesse caso, como fica a drenagem?”, questionava a nota do Núcleo Búzios do IAB-RJ.
O presidente do CAU/RJ, Pablo Benetti, defende a execução do projeto apresentado pelo Núcleo Búzios do IAB-RJ. “A obra atual vai descaracterizar as ruas do Centro, que moradores e turistas apreciam. O projeto apresentado pelos colegas do Núcleo Búzios propõe melhorias inclusivas, simples, alargando e melhorando as calçadas e travessias, mantendo a pavimentação de paralelos nas pistas para carros. Um trabalho melhor do que está em execução e pelo mesmo custo”, afirmou Benetti.