Talvez um dos mais importantes legados dos Jogos Olímpicos para a cidade do Rio de Janeiro em 2016 tenha sido o Boulevard Olímpico, um calçadão contínuo de 3,5 km que liga a Praça Mauá à Praça XV e descortina belíssimas paisagens ao longo da orla da Baía da Guanabara antes escondidas da população. É sem dúvida, um dos espaços mais democráticos, mais visitados e queridos dos cariocas e turistas que visitam o Rio desde o início dos Jogos.
Sua devolução ao Rio e aos seus cidadãos, após mais de dois séculos sob uso restrito da Marinha do Brasil, foi uma vitória da cidade e da sua população. Após intermináveis negociações, a Prefeitura da Cidade e a Marinha assinaram um termo de compromisso para liberar a área, antes restrita, ao uso coletivo e de lazer da população, em troca de benfeitorias e obras de urbanização no interior do I Distrito Naval e da construção de um restaurante e de um estacionamento subterrâneo.
Passados menos de seis meses da sua entrega à cidade e à população, a Marinha e a Prefeitura trocam acusações de descumprimento dos acordos e a orla volta a ser gradeada, impedindo a plena circulação de pedestres e o uso de decks e áreas de lazer, separando novamente o mar da cidade e voltando a bloquear as belíssimas visadas paisagísticas que se descortinam ao longo do trajeto.
Diante dessa briga do rochedo com o mar, quem sai perdendo é a cidade, a população e a paisagem.
Desta forma, as entidades de Arquitetura e Urbanismo do Estado do Rio de Janeiro, entre as quais o Conselho de Arquitetura e Urbanismo – CAU/RJ, a Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas – ABAP-RIO, o Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB-RJ, a Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo – ABEA/RJ, a Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura – ASBEA/RJ, e o Sindicato de Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro vêm a público se manifestar em prol do diálogo pelo bem da cidade e reivindicar a retirada imediata do gradeamento e a devolução da área ao longo da orla ao uso coletivo e de lazer dos cariocas.
Defendemos o resgate do espaço público em todas as cidades brasileiras, em especial, ao longo das orlas litorâneas e ribeirinhas, incentivando o acesso e o uso destes pela população.
No caso do Boulevard Olímpico, destacamos o investimento público realizado e a importância do processo de atração e integração que este espaço tem exercido na área central da cidade, ao conectar importantes espaços culturais e de lazer na área central da cidade. Esta área transformou-se em mais um patrimônio cultural e paisagístico importantíssimo não apenas para a cidade do Rio de Janeiro como para toda a Região Metropolitana.