Nesta segunda-feira, 26 de junho, a cidade de Teresópolis na Região Serrana fluminense acordou com uma nuvem de fumaça que dificultava a visão e respiração de boa parte dos moradores. A fumaça foi decorrente de um incêndio no lixão da cidade, localizado no bairro do Fischer, na altura do km 75 da BR 116 – Rodovia Santos Dumont, que ocorreu por volta das 5h da manhã. A baixa umidade do ar neste período do inverno dificultou a dispersão da fumaça que acabou se acumulando em vários pontos da cidade, gerando danos respiratórios às pessoas. Segundo o G1, uma mulher passou mal e teve de ser socorrida na rua. A prefeitura afirmou em nota que vai investigar as causas do incêndio, que julga ser criminoso.
O depósito de lixo da cidade existe pelo menos desde 1995. Em 2009, houve a tentativa de transformá-lo em aterro sanitário, mas como as normas sanitárias de manutenção não foram cumpridas, o local voltou a ser um lixão. O espaço foi interditado em 2018 pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e, desde então, a prefeitura não informou o que será feito do local. Está em funcionamento devido a uma liminar obtida pela prefeitura, para seguir recebendo lixo até que uma medida definitiva seja realizada.
A população do entorno, dos bairros do Fischer e, principalmente, do Matadouro, sobrevivem da reciclagem e tem receio do fechamento do depósito de lixo, sua única fonte de renda. A prefeitura implantou a coleta seletiva na cidade apenas em 2019 e, em 2020, criou um Centro de Triagem, na intenção de direcionar esses trabalhadores. Segundo dados da prefeitura, apenas 10 pessoas trabalham atualmente no Centro de Triagem. A prefeitura alega estar em busca de empresas para resolver o descarte de lixo na cidade e cogita realizar o que é conhecido como transbordo, que é levar o lixão do Fischer para outras cidades. Além de ser uma solução cara, a alternativa só transfere o problema para outras regiões.
Rodrigo Koblitz, do Planeja Terê, associação sem fins lucrativos que luta pelo planejamento urbanístico, ambiental e social do município e, entre outras coisas, pela realização de um Plano Diretor Popular na cidade, criticou a ideia do transbordo. “Além dos R$13 milhões para remover o lixo de nossas casas que já pagamos, ainda teríamos que pagar mais ou menos esse valor para levar nosso lixo para outra cidade. Não resolve nosso problema, transferimos para outro município, perdemos mais uns R$10 milhões por ano e ainda colocamos em mais vulnerabilidade cerca de 500 famílias, ou 2000 pessoas, que são os catadores, que ficariam sem renda de uma hora para outra.”, avaliou.
Para ele, a situação exige soluções simples e imediatas. “Ao invés de propor soluções que envolvam avançadas tecnologias, inclusive sociais, como a produção de biodiesel – algo proposto previamente pela prefeitura – devemos fazer o simples. Coleta seletiva, com aproveitamento econômico dos resíduos sólidos, recicláveis, e dos compostos orgânicos, como adubo. Com o amadurecimento desse processo, podemos avançar para produção de biogás. O volume de lixo que precisaria ser armazenado pode diminuir em até 70 a 80%. Claro que precisaremos de outro lugar para a estocagem do restante, mas se torna uma solução muito mais barata, podendo até ser lucrativa”, acrescentou Koblitz.
O CAU/RJ acredita que uma ação combinada entre Secretaria do Meio Ambiente, Secretaria de Desenvolvimento Social, de Planejamento Urbano, com a participação das entidades dos catadores da cidade faz-se necessária para sanar a questão e evitar tragédias, como a do lixão de Gramacho, em Duque de Caxias. Conhecido como o maior lixão da América Latina, o aterro, que recebia lixo do Rio de Janeiro, foi fechado em 2012, mas até hoje as famílias esperam por soluções de urbanização, alternativas para geração de renda, capacitação e ações para reciclagem de resíduos com ajuda do governo. Sem ações conjuntas, o fechamento do aterro se transformou em uma grande questão urbana e ambiental para a cidade.