Por Assessoria de Comunicação
O Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro lamenta a morte do arquiteto e urbanista, ex-prefeito do Rio de Janeiro, Luiz Paulo Conde, que faleceu na madrugada desta terça-feira (21), aos 80 anos. Conde estava internado no Hospital Samaritano, em Botafogo, e lutava há alguns anos contra um câncer de próstata.
Em todas as facetas de sua vida profissional, Conde deu grande visibilidade a Arquitetura e Urbanismo, elevando o ofício de pensar o uso do espaço à sua devida dimensão social. Na vida pública, idealizou reformas urbanas na cidade do Rio de Janeiro que transformaram a paisagem nas comunidades e no asfalto. Conde também foi um arquiteto reconhecido pela qualidade dos seus projetos e era uma referência para diferentes gerações de estudantes na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ.
O CAU/RJ se solidariza com seus familiares, amigos e alunos neste momento de profunda tristeza.
Luiz Paulo Conde foi presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), professor titular e diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ. Entre 1993 e 1996, foi Secretário de Urbanismo do Rio de Janeiro na primeira gestão do prefeito César Maia, e prefeito do Rio pelo PFL, de 1997 a 2000. Entre as suas principais realizações estão os projetos de urbanização Favela-Bairro e o Rio Cidade, iniciados na primeira gestão de Maia, além da construção da Linha Amarela, do campus da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e 50 escolas e centros de treinamentos poliesportivos para o governo Carlos Lacerda.
Referência para arquitetos e urbanistas
“Em sua vida pública, Conde deixou uma marca na cidade, ao idealizar reformas urbanas e criar mecanismos de valorização do projeto. Conferiu dessa forma grande visibilidade a Arquitetura e o Urbanismo”, avalia o presidente do CAU/RJ, Jerônimo de Moraes, que o conheceu ainda estudante na FAU/UFRJ, no final de década de 1970. “Como professor, era uma referência para nós, não apenas por sua reconhecida atuação profissional como arquiteto, mas também por levantar discussões sobre a arquitetura de forma bastante democrática, em um momento delicado para a universidade em termos de liberdade de expressão”.
Para o presidente do CAU/BR, Haroldo Pinheiro, “perdemos hoje a convivência com uma liderança forte, daquelas verdadeiramente referenciais para a arquitetura brasileira. A vida profissional do Luiz Paulo Conde foi completa: arquiteto e urbanista talentoso e professor destacado, ainda dedicou boa parte de seu tempo ao trabalho voluntário no Instituto de Arquitetos do Brasil. Como gestor público, pôs em prática o que defendia quando presidente do IAB/RJ, ao realizar dois dos mais importantes e bem sucedidos concursos de arquitetura e urbanismo do Brasil: o “Rio-Cidade” e o “Favela-Bairro”. Fez tanto pela cultura e pelo país e soube repartir seus conhecimentos generosamente, nas tantas publicações que realizou. É merecedor de nosso sincero reconhecimento e de nossas melhores homenagens”.
Para o presidente do IAB Nacional, Sérgio Magalhães, Conde era apaixonado pela cidade e pela arquitetura. “Logo no começo da concepção do projeto Rio Cidade, quando ele era secretário de urbanismo e eu de Habitação, Conde nos surpreendeu um dia ao voltar de uma reunião com então prefeito Cesar Maia. Tínhamos conversado em implantar o projeto em três bairros e ele chegou dizendo: ‘Três é pouco, vamos fazer em 15 bairros’. O projeto acabou sendo implantados em cerca de 30 bairros. Para o Conde, não se tratava de fazer uma experiência, mas de provocar uma mudança na cidade”, disse Magalhães em entrevista ao jornal O Globo.
Em nota, o ex-prefeito Cesar Maia lamentou a morte de Conde: “O Rio deve muito ao urbanista, professor e prefeito Luiz Paulo Conde. Especialmente a maior reforma urbana complexa que iniciou e comandou, no asfalto, o Rio-Cidade, e nas comunidades o Favela-Bairro. Um reconhecimento que todos nós cariocas – e o urbanismo – devemos a ele.”
Prefeitura decreta luto oficial de três dias
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, decretou luto oficial de três dias pela morte do ex-prefeito. “O Rio de Janeiro perdeu hoje um grande realizador. Luiz Paulo Conde fez parte de um grupo seleto de cariocas que tiveram o prazer e o orgulho de gerir a nossa Cidade Maravilhosa. (…) Conde foi um inspirador para realizarmos a grande transformação pela qual o Rio de Janeiro passa. Com seu olhar urbanístico, foi um dos primeiros gestores a pensar na revitalização da Região Portuária e na demolição do elevado da perimetral. Hoje, o Rio está mais triste com sua perda”, disse Paes, em nota.
O governador do Rio Luiz Fernando Pezão também expressou pesar pela morte do ex-prefeito, de quem se disse amigo desde o tempo que era prefeito de Piraí. “Lamento muito a morte dele. Convivi com ele quando eu era prefeito. Era um grande ser humano, um grande arquiteto. Era um companheiro da boa mesa. Almoçamos e jantamos muitas vezes juntos. Era um grande amigo, um grande homem público”, afirmou Pezão.
O velório será realizado no Palácio da Cidade a partir das 18 h. O enterro ocorre amanhã, no Cemitério São João Batista, às 12h. Conde deixa esposa, a também arquiteta Rizza Conde, e três filhos. O CAU/RJ se solidariza com seus familiares, amigos e alunos neste momento de profunda tristeza.
Leia abaixo alguns depoimentos sobre Luiz Paulo Conde:
“Trabalhamos juntos quando estive à frente da Rioluz e ele era prefeito. Foi uma oportunidade única em que a Arquitetura e o Urbanismo tiveram um protagonismo na ação pública sobre o espaço urbano diurno e noturno, que foram especialmente valorizados nessa gestão. Naquela época, no final dos anos 90, o Rio havia se tornado uma referência em iluminação de monumentos. Conde não tinha o tradicional olhar político sobre a cidade, tinha um olhar de arquiteto e urbanista. Soube valorizar muito bem a Arquitetura e o Urbanismo em sua gestão”
Arquiteto e urbanista José Canosa Miguez, diretor administrativo e conselheiro do CAU/RJ. Foi diretor de projetos e presidente da Rioluz entre 1993 e 2000, especialista em iluminação urbana
“Trabalhei no escritório que ele formou, o Luiz Paulo Conde Arquitetura, durante 24 anos, além disso, trabalhei com ele em projetos pessoais. Nas horas vagas, ele costumava se divertir fazendo projetos especiais para presentear amigos e familiares. Foi um tempo de convivência muito enriquecedor para mim porque o escritório mesclava várias escalas da arquitetura, indo desde o design de interiores ao urbanismo. Ele fazia arquitetura de qualidade e possível de ser feita, era muito atento às premissas dos projetos, aos detalhes exaustivos do projeto. Ele dizia que não fazia arquitetura-show, mas que um dia ia chegar lá”. – Arquiteto e Urbanista Celso Rayol, conselheiro do CAU/RJ
“Em 1992, no primeiro semestre da FAU/UFRJ, eu saía da minha turma de Projeto de Arquitetura I para assistir às aulas de Luiz Paulo Conde na sala ao lado. Era um prazer ver o domínio que ele tinha sobre diferentes escalas do projeto, do menor detalhe à grande escala. Logo em seguida ele saiu da universidade para adentrar na administração municipal como Secretário de Urbanismo. O trabalho que ele começou, com grande ênfase em desenho urbano, requalificação de espaço público, urbanização de favelas, concursos, design, sistemas urbanos, etc. influenciou a minha geração. Estudar arquitetura nos anos 90 significava debater e tentar entender a cidade. Meu interesse por cidades veio deste período especial do Rio que ele criou. Foi graças à iniciativas dele de fomento a concursos públicos de arquitetura que pude começar minha vida profissional, em especial por causa do Concurso para o Gasômetro em 2000 que ganhei. (…) É um dia triste hoje. Mas é também um dia de celebrarmos um grande arquiteto e grande homem público, que não apenas redesenhou a cidade mas permitiu que jovens arquitetos e urbanistas pudessem surgir e creio que este é o maior valor, e legado, de homens e cidades: generosidade. – Arquiteto e urbanista, presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade e conselheiro do CAU/RJ, Washington Fajardo
“Guardo lembranças dele da época em que dávamos aula de projeto de arquitetura na FAU/UFRJ. Ele era uma pessoa muito alegre e eu admirava o interesse que ele tinha pela arquitetura. Ele estudava arquitetura diariamente e formou uma biblioteca formidável, que compartilhava com os colegas. Para mim o que fica do Conde é a generosidade de criar oportunidades para os arquitetos e ao mesmo tempo desenvolver a cidade. Ele fazia isso não por apadrinhamento, mas por meio de concursos. Participei de concursos realizados pelo IAB a pedido do Conde, e fui escolhido para o Rio Cidade I e II, no Méier e Irajá, e para o Plano Diretor da Rocinha. Meu escritório deve muito a ele. Toda a classe deve muito a ele”. – Arquiteto e Urbanista Luiz Carlos Toledo
“Fomos amigos desde os 17 anos, fizemos vestibular, estudamos e trabalhamos juntos. Ele sempre foi uma figura proeminente, sempre se destacou. Teve uma trajetória de dedicação, sobretudo, ao bem comum, seja como Secretário de Urbanismo, seja como prefeito. Ele mantinha uma atividade profissional muito profícua, produzindo e pensando a arquitetura de forma a colaborar com a sociedade. Era um arquiteto completo”. – Arquiteto e Urbanista, professor da PUC-Rio, Alfredo Britto
“Ele foi escolhido para receber uma medalha, em uma homenagem feita pelo IAB em 2009, por seu talento como arquiteto e urbanista e sua dedicação como professor. Em sua vida pública, conseguiu estruturar programas que repercutiram na qualidade de vida das pessoas. Conde deixou como marca seu profundo amor pelo Rio”. – Arquiteta e urbanista Dayse Góis, ex-presidente do IAB-RJ.