Uma mesa-redonda com o tema “Sistemas Institucionais Urbanos e Metrópole” abriu os seminários desta quinta-feira, no segundo dia do Q+50, evento sobre Política Urbana que está sendo realizado na Casa do Arquiteto Oscar Niemeyer, na sede do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), no Rio de Janeiro.
A mesa teve a participação da arquiteta e professora no Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFBA Angela Gordilho Souza, do economista e professor no Instituto de Economia da UFRJ Mauro Osório, da arquiteta Elisabete França e do arquiteto Jorge Guilherme Francisconi. Os palestrantes foram mediados pelo presidente do CAU/RJ, Sidnei Menezes.
Os participantes lembraram o histórico Seminário Nacional de Habitação e Reforma Urbana, realizado no Hotel Quitandinha, em 1963, para destacar a importância da discussão de novas bases de uma política de urbanização nacional e das mudanças demográficas brasileiras.
Para Angela Gordilho Souza, a política habitacional pensada em 1964 (um ano após o seminário do Quitandinha), que estimulava a construção de conjuntos habitacionais em áreas afastadas da cidade, não resolve os problemas atuais. “Nesses sistemas, as famílias mais pobres acabam recorrendo a espaços residuais, como cortiços e áreas de riscos, além da medida representar um processo de exclusão social”.
Já Mauro Osório apresentou dados estatísticos que buscam explicar a dinâmica das cidades brasileiras, como a expansão da economia e a migração da força de trabalho do campo para os centros urbanos. Ele também exibiu dados sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida e a relação crédito imobiliário x PIB.
“No período de 1994 a 2004, ocorreu um dos maiores crescimentos da economia, impulsionado pelo setor da construção civil, com a ativação do mercado mobiliário e estimulado pelo programa Minha Casa, Minha Vida. Contudo, temos uma relação entre crédito imobiliário e PIB em torno de 5%, o que para os padrões internacionais é baixíssima”, afirmou Osório.
Elisabete França trouxe para o debate a experiência da habitação em São Paulo de 2005 a 2012. Um dos casos apresentados foi o de Paraisópolis, favela instalada no Morumbi, um dos bairros mais nobres da capital paulista.
“A população de lá é de 80 mil moradores. Os arquitetos buscaram entender as referências que os moradores tinham do bairro. Através desse trabalho, foi possível constatar que eles, por exemplo, não tinham medo da violência do local e, ainda, que preservavam laços afetivos extintos nas cidades contemporâneas”, argumentou.
Jorge Francisconi explicou que um dos fatores importantes do seminário de 1963 foi ter se aproximado de quem era responsável por fazer as obras: o poder público. O evento, lembrou ele, também apresentou a ideia de metrópole, tratou sobre o plano de território e a questão da favela.
No cenário atual, de Q+50, no entanto, o arquiteto falou sobre o drama do urbanista contemporâneo: “O planejador urbano é responsável por propor coisas concretas, mas ele está perdido. É preciso existir uma metodologia de sustentabilidade, do ponto de vista econômico, ambiental e social, para que os municípios tenham mais força na definição política públicas.”
A mesa-redonda “Sistemas Institucionais Urbanos e Metrópole – Democratizar cidades sustentáveis” foi a última da programação do seminário de Política Urbana Q+50, no Rio. O evento é promovido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), com o objetivo de contribuir para o reforço da agenda política das cidades e das metrópoles brasileiras. O seminário é comemorativo dos 50 anos do encontro realizado em 1963 no Hotel Quitandinha.
O último dia de atividades do Seminário Q+50, no Rio, acontece nesta sexta-feira, 1º de março. Serão apresentadas as conclusões grupos de trabalho (Democracia e Cidade; Ethos urbano e urbanidade; e Movimentos urbanos e oportunidades) e os relatórios dos seminários locais. O evento será realizado das 9h às 17h.
Fonte: Site IAB