A Semana de Arquitetura e Urbanismo do CAU/RJ reuniu arquitetos e urbanistas, estudantes e a sociedade, com atividades que incluíram debates, oficinas e programação cultural, no Museu da República, de 8 a 11 de novembro.
“O objetivo fundamental do evento é abrir o diálogo com a sociedade”, afirmou o presidente do CAU/RJ, Pablo Benetti, na mesa de abertura. Ao lado dele, estavam a representante do Colégio Estadual das Entidades dos Arquitetos e Urbanistas (CEAU) Sonia Lopes e o diretor do Museu da República, Mário Chagas. “Recebemos este seminário com entusiasmo, pois temos uma fina sintonia com a programação, que é variada e comprometida com o tempo atual”, afirmou o diretor.
O Seminário de Exercício Profissional começou com uma conversa sobre o exercício do profissional urbanista no setor privado. A mesa contou com a participação virtual do arquiteto Jonatas Magalhães, da PUC Campinas, e presencial dos arquitetos e urbanistas Rogério Cardeman, Washington Fajardo e Anthony Ling, editor do site Caos Planejado. A mediação foi da conselheira do CAU/RJ Leila Marques.
A conselheira lembrou que a atividade do urbanista não se resume ao planejamento macro da cidade e estimulou os participantes a contarem suas experiências em outros campos de atuação. Fajardo afirmou que vê grande potencial para atuação do urbanista, seja no setor público, atendendo a inovações metodológicas e conceituais nesta esfera, seja no setor privado, em campi universitários, área pouco explorada no país, ou trazendo a visão do planejamento para proprietários de grandes parcelas de terra. Já Ling lembrou a importância das pesquisas de temas urbanos, que ainda recebem pouco financiamento. Cardeman, por sua vez, contou suas experiências como professor e escritor de livros de arquitetura e urbanismo.
A segunda mesa do dia abordou a interseccionalidade no mercado de trabalho: gênero, raça e classe, com a presença das arquitetas e urbanistas Camila Leal, conselheira do CAU Brasil pela Paraíba; Melissa Alves, do coletivo Yê Mastaba!, da UFRJ e Vitória Gouvêa, formada pela UFF. A mediação ficou a cargo da Conselheira do CAU/RJ Paloma Monnerat.
Camila Leal apresentou dados do II Censo das Arquitetas e Arquitetos e Urbanistas do Brasil, realizado em 2021. “Os resultados mostram o quanto estamos distantes do estereótipo do arquiteto focado em grandes projetos e grandes obras”, observou. Vitória Gouvêa apresentou seu trabalho de conclusão de curso sobre a trajetória de mulheres negras pelo direito à moradia. “Passei por um caminho elitizado e embranquecido na academia e, com este trabalho, estando aqui, posso sonhar em ser arquiteta e urbanista”. Já Melissa Alves falou de sua pesquisa, que trata da produção negra como referencial teórico e prático.
Para falar de trabalho, emprego e renda, foram convidados o economista Fernando Amorim, do Dieese, o arquiteto e urbanista e professor da Unigranrio Gabriel Botelho e a arquiteta e urbanista do Sindicato dos Arquitetos no Estado Rio Grande do Sul (Saergs) e do escritório Arquitetura Humana, Taiane Beduschi. A mediação foi do coordenador da Comissão de Exercício Profissional do CAU/RJ, Rodrigo Bertamé. Ele lembrou que a valorização do profissional é mais do que a simples divulgação dos serviços profissionais, mas está relacionado também à renda e ao cumprimento da legislação.
Quanto a isso, Fernando Amorim não trouxe notícias muito positivas. De 2012 a 2022, a renda habitual média dos arquitetos e urbanistas subiu 17%, enquanto o INPC (índice que mede a variação do custo de vida médio de famílias com renda mensal de 1 a 5 salários-mínimos) acumulado aumentou 80%, de acordo com dados do IBGE. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do IBGE, em 2016, 60 mil arquitetos e urbanistas trabalhavam por conta própria. Em 2022, este número aumentou para 104 mil.
Já Gabriel Botelho apresentou uma linha do tempo histórica contando o desenvolvimento da arquitetura e urbanismo, ressaltando que esta não é uma atividade neutra e como o conceito de “bom gosto” é construído socialmente. Taiane Beduschi, por sua vez, falou sobre o projeto Trabalhadores Articulados em Benefício da Arquitetura (T.A.B.A.), levantamento sobre o mercado de trabalho em arquitetura e urbanismo realizado pelo CAU e pela Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA).
Para encerrar a programação do dia, a Semana de Arquitetura e Urbanismo abriu espaço para profissionais de outras áreas, que atuam em parceria com arquitetos e urbanistas. A mesa Papel do(a) arquiteto(a) e interdisciplinaridade com outras profissões, contou com a presença da museóloga Isabel Portella, a assistente social Aline Rocha, o engenheiro José Stelberto e da arqueóloga Jaqueline Macedo. A ex-vice-presidente do CAU/RJ, Isabel Tostes foi a responsável pela mediação.
Os convidados falaram sobre as conexões entre suas profissões e a arquitetura e urbanismo. Isabel Portella abordou a acessibilidade em museus, enquanto Aline Rocha falou sobre as parcerias nos projetos de Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (Athis). “Não adianta abrir uma janela para melhorar a ventilação de uma casa, se essa janela der para a ‘boca’”, disse, citando o exemplo de uma visita a uma comunidade.
Os estereótipos das profissões como assistente social (o da moça boazinha) e de arqueóloga (Indiana Jones) também foram evidenciados nos discursos. “Se não houver diálogo, vamos continuar sendo vistos como o empecilho na obra”, comentou Jaqueline Macedo. “Precisamos trabalhar unidos para que o conhecimento avance”, completou.