Pela primeira vez em sua história, o Prêmio Pritzker de Arquitetura foi dividido em 2017 entre três arquitetos, os catalães Rafael Aranda, Carme Pigem e Ramon Vilalta. O anúncio aconteceu dia 01/02/2017 em Chicago.
Entre os projetos mais notáveis do trio estão La Cuisine Art Center (Nègrepelisse, França, 2014), Museu Soulages em colaboração com G. Trégouët (Rodez, França, 2014), Teatro La Lira e Espaço Público Aberto em colaboração com J. Puigcorbé (Ripoll, Girona, Espanha, 2011), restaurante Les Cols (Olot, Girona, Espanha, 2011), centro infantil El Petit Comte em colaboração com J. Puigcorbé (Besalú, Girona, Espanha, 2010), Vinícola Bell-Lloc (Palamós, Girona, Espanha, 2007), Biblioteca e Centro de Idosos Saint Antoni – Joan Oliver e Jardins Cándida Pérez (Barcelona, Espanha, 2007), do restaurante Enigma, de Albert Adrià (Barcelona) e o Estádio Tossol-Basil Athletics (Olot, Girona, Espanha, 2000).
Os três arquitetos, estabelecidos em uma antiga fundição na pequena de Olot (província de Girona), cidade de apenas 34 mil habitantes, são sócios do RCR Arquitectes desde 1988 e se formaram em Arquitetura pela ETSAV (Escola Tècnica Superior d’Arquitectura del Vallès), da Universidad Politécnica de Cataluña (UPC) no ano anterior. Rafael e Carme são filhos de Olot mesmo e Ramon, esposo de Carme, nasceu em Vic, próximo a Barcelona. Por mais que fossem incentivados a sair para o mundo, eles não arredaram pé dali e estão felizes com o resultado. “Quando se vive em um pueblo você tem claro o que construir. Você se depara com ele diariamente. Torna-se sua consciência”, declarou Rafael Aranda ao jornal “El País”.
Segundo o júri, essa relação profissional de quase três décadas tem demonstrado “um comprometimento inflexível com o lugar e suas narrativas”, buscando criar espaços que estejam em discurso com seus respectivos contextos. Ao “harmonizar a materialidade com a transparência, Aranda, Pigem e Vilalta procuram conexões entre o exterior e o interior”, resultando em uma arquitetura “emocionante e experiencial.”
A valorização da Arquitetura produzida localmente em um mundo globalizado – foi fundamental para a escolha dos laureados. “Cada vez mais pessoas temem que, por causa da influência internacional”, diz a citação do júri, “perderemos nossos valores locais, nossa arte local e nossos costumes locais.” O júri acredita que os vencedores “nos ajudam a ver, de uma forma mais bela e poética, que a resposta à questão não é ‘ou isso ou aquilo’ e que podemos, pelo menos na arquitetura, buscar ambos; nossas raízes firmes no local e nossos braços estendidos para o resto do mundo.”
Conhecer, entender, respeitar e dialogar com o local do projeto é a filosofia deles. Quando trabalharam no projeto do Les Cols, conta Rafael Aranda, “entre os pomares e galinhas perguntávamos como falar com o que já existia. Decidimos, então, fazê-lo face a face, sem alterar o local, mas com a sua própria voz”.
Para o trio, Arquitetura existe apenas uma, a “que contribui para o bem-estar físico e espiritual”. Segundo o jornal “El Pais”, numa época “em que a disciplina está dividida entre ser pós-icônica ou aceitar o edifício como um fundo de investimento, eles defendem um valor clássico: beleza, fundamental para tudo na vida. O trabalho artesanal exigente e minimalista do RCR é o reconhecimento da Arquitetura como uma forma de arte que afeta a vida diária sem comprometer as suas aspirações estéticas”.
CITAÇÃO DO JÚRI – Aranda, Pigem e Vilalta passaram as suas respectivas carreiras desenvolvendo, na sua maior parte, projetos com um profundo foco e influência local; a maioria de suas obras foi construída na Europa, em especial na península ibérica e Espanha. Seus projetos destacam a materialidade e as técnicas construtivas – fazendo intenso uso da cor, transparências e luz – e abrangem uma ampla gama de programas, de museus e teatros a escolas e residências.
O trio tem procurado evocar uma identidade universal, empregando uma paleta de materiais que inclui aço reciclado e plástico. “Eles têm demonstrado”, disse Glenn Murcutt, Presidente do Júri deste ano, “que a singularidade de um material pode render uma incrível força e simplicidade para um edifício.” Segundo ele, “a colaboração desses três arquitetos produz uma arquitetura austera de nível poético, representando um trabalho atemporal que reflete grande respeito pelo passado, ao passo que projeta a clareza do presente e do futuro”.
COMPROMETIMENTO COM A HUMANIDADE E O AMBIENTE – Essa foi a 38a. edição do Pritzker Architecture Prize, criado em 1979 pelo falecido Jay A. Pritzker e sua esposa, Cindy. Seu objetivo é homenagear anualmente um arquiteto vivo cujo trabalho construído combine talento, visão e compromisso, resultando em contribuições consistentes e significativas para a humanidade e o ambiente construído através da arte da Arquitetura.
Os laureados do Pritzker são uma mostra dos nomes mais influentes da Arquitetura mundial, incluindo Philip Johnson, Zaha Hadid, Rem Koolhaas, Oscar Niemeyer, Paulo Mendes da Rocha, Norman Foster, Peter Zumthor, Toyo Ito e, em 2016, Alejandro Aravena. A edição de 2017 é a segunda em que o prêmio é concedido à Espanha: a primeira foi com a premiação de Rafael Moneo em 1996. Clique no link para conhecer a lista completa dos laureados.
A cerimônia de entrega do prêmio (100 mil dólares) acontecerá no Palácio Akasaka em Tóquio, Japão, no dia 20/05/17.
Fonte:CAU/BR