Paraty e Ilha Grande são reconhecidas como Patrimônios Mundiais pela Unesco
5 de julho de 2019 |
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Paraty e Ilha Grande, em Angra dos Reis, receberam nesta sexta-feira, 5 de julho, o título de Patrimônio Cultural e Natural Mundial pela Unesco. A decisão foi anunciada na 43ª sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) em Baku, no Azerbaijão.
“É uma ótima notícia para o Rio de Janeiro, para o país, para a humanidade. Esperamos que esse título contribua para preservar o patrimônio cultural, imaterial e natural de Paraty e dos demais municípios, e proteger as comunidades que habitam esses locais. O Rio de Janeiro já possui o título de paisagem natural e o Cais do Valongo como patrimônios, é a capital mundial da arquitetura. Esse é o momento de reunirmos esforços para investir mais na valorização e conservação de nossos patrimônios”, afirmou o presidente do CAU/RJ, Jeferson Salazar.
O título abrange seis municípios, sendo quatro do estado de São Paulo (Ubatuba, Cunha, São José do Barreiro e Areias), com um total de quase 150 mil hectares de mata nativa, englobando áreas do Parque Nacional da Serra da Bocaina, do Parque Estadual da Ilha Grande, da Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul e da Área de Preservação Ambiental de Cairuçu, além do Centro Histórico de Paraty e o Morro da Vila Velha.
Outro feito é que o local é o primeiro sítio misto da América Latina onde encontra-se uma cultura viva. Outros sítios mistos do continente, como Machu Picchu, no Peru, são sítios arqueológicos em uma paisagem natural. Com cerca de 85% da cobertura vegetal nativa bem conservada, a área do sítio misto forma o segundo maior remanescente florestal do bioma Mata Atlântica. Paraty já havia se candidatado em outras duas oportunidades, a última delas em 2009, sem sucesso. No ano passado, voltou a tentar o reconhecimento, incluindo o aspecto da biodiversidade.

Ruínas do Aqueduto do Lazareto em Ilha Grande. O aqueduto abastecia o presídio (Foto: Suellen Andrade)
“Essas declarações da Unesco que chancelam os diversos bens, das diversas categorias de patrimônio da humanidade são importantes, principalmente, para reforçar o nível de proteção pelo próprio país. Uma das condições que a Unesco avalia é o nível de proteção que o bem venha recebendo do país. É muito importante, principalmente, para Ilha Grande que vem sofrendo com um processo grande de antropismo, ou seja, com ações dos seres humanos, seja do ponto de vista do crescimento urbano ou de outras formas de apropriação do meio ambiente. Para Paraty também, pela questão histórica, ambiental e paisagística”, disse o Conselheiro Federal pelo Rio de Janeiro e ex-superintendente do Iphan, Carlos Fernando Andrade.
Paraty foi fundada em 1667 e é considerada uma das cidades mais importantes do período colonial, por estar na rota de escoamento do ouro minerado em Minas Gerais. O conjunto arquitetônico da cidade foi tombado pelo Iphan em 1958. Já Ilha Grande é a maior ilha do estado do Rio de Janeiro e a sexta maior ilha marítima do Brasil. Foi palco de várias batalhas marítimas na época da colonização e abrigou, no século XX, presídio para presos políticos. Entre eles, Graciliano Ramos, onde escreveu “Memórias do Cárcere”.
Segundo a Convenção do Patrimônio Mundial de 1972, da Unesco, o excepcional valor universal é expresso em dois principais critérios. Um deles é ser um excelente exemplo de interação humana com o meio ambiente. Outro critério é conter os habitats naturais mais importantes e significativos para a conservação da diversidade biológica.
De acordo com o Iphan, o sítio apresenta alto grau de espécies endêmicas da fauna e da flora, assim como espécies raras do bioma Mata Atlântica. São 36 espécies vegetais consideradas raras, sendo 29 endêmicas. A área abrange cerca de 45% das aves da Mata Atlântica e 34% dos sapos e pererecas do bioma. Há registros de mamíferos raros e predadores, como a onça-pintada e o muriqui, o maior primata das Américas. Seus sítios arqueológicos têm mais de quatro mil anos. O território abriga duas terras indígenas, dois territórios quilombolas e 28 comunidades caiçaras, que vivem da relação com a natureza, da pesca artesanal e do manejo sustentável de espécies da biodiversidade.
Conheça o sítio misto:
(Com informações do Iphan)
Serra da Bocaina: ali se pode percorrer parte do Caminho do Ouro, observar a rica biodiversidade e apreciar a vista da baía da Ilha Grande a partir da Pedra da Macela;
Parque Estadual da Ilha Grande: encontra-se uma variedade de oficinas líticas, vestígios de indígenas pré-históricos, que usavam rochas para polir e afiar seus instrumentos de pedra;
Reserva Biológica da Praia do Sul: tem sua paisagem marcada pela tradicional canoa caiçara e praias bem preservadas;
Área de Proteção Ambiental de Cairuçu: tem como principais atrativos praias e ilhas, o Saco do Mamanguá, cultura caiçara quilombola e indígena, além do sítio histórico de Paraty-Mirim;
Centro Histórico de Paraty: palco de muitos festejos tradicionais, como a Festa do Divino Espírito Santo;
Morro da Vila Velha: onde fica o forte e Museu do Defensor Perpétuo.