Livro sobre o arquiteto Carlos Leão, patrocinado pelo CAU/RJ, foi lançado nesta terça-feira (24/05)
18 de maio de 2016 |
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O arquiteto Carlos Leão talvez tenha sido mais conhecido do público por suas mulheres: não as de carne e osso, mas as que serviram de musas e inspiração para suas pinturas a óleo, guache e aquarela e desenhos a bico de pena. Exímio desenhista, sua própria biografia traduz o encontro entre a arte e a arquitetura. Realizou inúmeras exposições de pintura, no Brasil e no exterior, e ilustrou vários livros de Vinicius de Moraes e Carlos Drummond de Andrade. Projetava seus espaços com a sensualidade e o detalhismo com que retratou a nudez das figuras femininas, transferindo a poética das curvas e sinuosidades para as linhas retas e concretas da arquitetura modernista, em croquis e desenhos técnicos que beiram a obra de arte.
Agora a arquitetura de Carlos Leão – um dos pioneiros da arquitetura modernista – finalmente é apresentada em livro, em um projeto muito especial: idealizado há quase três décadas pelo arquiteto Jorge Czajkowski, e esboçado antes de sua morte, em 2010, Carlos Leão – Arquitetura, da editora Bazar do Tempo, em co-edição com a Dois Um, e patrocinado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/RJ), foi lançado nesta terça-feira (24/05), na livraria Argumento, no Leblon. Mais do que a compilação de projetos icônicos de Leão, o livro é um resgate da importância que teve para o que Czajkowski chamou de “Nativismo carioca: uma arquitetura entre a tradição e a modernidade”, título de seu amplo trabalho sobre a obra do arquiteto.
Após anos de pesquisa, Czajkowski e sua equipe conseguiram reunir 120 desenhos originais (entre croquis, anteprojetos ou projetos definitivos), de obras realizadas ou apenas esboçadas, além de fotos de Pedro Oswaldo Cruz e Pedro de Moraes e de uma série de documentos, listagens e textos. Ao longo da idealização do livro, Czajkowski realizou exposições sobre a obra de Leão e publicou textos em revistas especializadas. Todo esse trabalho tinha um objetivo final: reunir e redescobrir a obra arquitetônica de Carlos Leão. Após a morte de Czajkowski, o trabalho teve continuidade com uma equipe formada pela arquiteta e produtora Claudia Pinheiro, a arquiteta Maria Helena Röhe Salomon, o historiador da arte Roberto Conduru (também responsável pelos textos do livro), a designer Sula Danowski e a assistente editorial Rosalina Gouveia. Ao chegar às mãos da editora Ana Cecilia Impellizieri Martins, da Bazar do Tempo, tomou a forma final.
O livro, bilíngue, é um passeio não apenas pela obra de Leão, mas pela história arquitetônica do Rio, e recheado de poesia. Com prefácio de Lucio Costa escrito especialmente para o livro, traz um longo texto de Jorge Czajkowski, trechos de uma entrevista dada por Carlos Leão ao Jornal da Semana, de 1953, uma cronologia detalhada e o poema Balada do Cavalão, de 1946, escrito por Vinicius de Moraes durante uma das muitas estadas dele na casa do arquiteto em Niterói, apelidada de “Cavalão” – onde Vinicius, ex-cunhado de Leão (Ruth, mulher do arquiteto, era irmã de Tati, primeira mulher do poeta) rascunhou o texto que depois viria a se tornar Orfeu da Conceição.
A edição conta com rico material de projetos icônicos como o do edifício do Ministério da Educação e Saúde, hoje Palácio da Cultura, idealizado por Le Corbusier. Leão integrou a equipe que projetou edifício, ao lado de Oscar Niemeyer, Lucio Costa, Affonso Eduardo Reidy, Ernani Vasconcellos e Jorge Machado Moreira. E um acervo das muitas residências modernistas – que teve início com o projeto da casa de sua mãe, em 1934, muito elogiada por Le Corbusier em sua estada no Rio, em 1936.
A partir daí, e nas próximas duas décadas, projeta a série de “casas brasileiras”, em que deixou um pouco de lado os princípios modernistas para uma clientela que ainda não se sentia confortável diante de uma arquitetura normalmente marcada em prédios públicos. Mesmo assim, Leão cria o que solicitava o cliente, mas com o mínimo de referência possível a uma arquitetura do passado. Desta forma, uniu o tradicional e o novo, produzindo o que pode ser considerada uma arquitetura “fora do tempo”. A ruptura vem com a residência construída para o banqueiro Homero Souza e Silva, em 1956, no Jardim Botânico: foi a volta do arquiteto ao estilo racionalista.
Entre os 44 projetos de residências icônicas presentes no livro estão a residência e o ateliê de Lota Macedo Soares, em Petrópolis, de 1942; o Edifício Casa da Bancária (1953), no Jardim Botânico; a casa de veraneio de Homero Souza e Silva (1960), em Cabo Frio; a do advogado, empresário e político Sebastião Paes Almeida (1961), em Brasília.
“Este livro é, ao mesmo tempo, uma homenagem a Carlos Leão e ao trabalho intenso de Jorge Czajkowski, ao reunir todo um vasto material capaz de afirmar a arquitetura de Carlos Leão, o Caloca, como uma das mais relevantes do país, e sua importância para a cultura brasileira”, diz Roberto Conduru.
Fonte: Angela Falcão Comunicação