Dia Internacional de Museus é marcado por reflexões sobre conservação do patrimônio
17 de maio de 2019 |
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Até amanhã, museus de todo o país realizam atividades em função da 17ª Semana Nacional de Museus, promovida pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), com o tema “museus como núcleos culturais: o futuro das tradições”. Neste sábado, dia 18 de maio, é comemorado o Dia Internacional de Museus. Se por um lado, a data é um estímulo à valorização do patrimônio cultural brasileiro e um incentivo para que a população conheça e visite os museus, por outro, ainda está muito viva na memória dos cariocas, o incêndio do Museu Nacional em setembro do ano passado.
O diretor do Museu Nacional, Alexandre Kellner, afirmou esta semana, durante assinatura de protocolo de intenção de cooperação técnico-científica com o Ibram, que as obras de restauração do museu começarão ainda em 2019. Até o momento, as obras realizadas foram voltadas para o escoramento e a cobertura parcial do museu, com verba de R$ 10 milhões, vinda do Ministério da Educação. Segundo os cálculos de Kellner, o museu só poderá ser reaberto ao público em cinco anos.
Criado por D. João VI em 1818, o Museu Nacional era a instituição científica mais antiga do país e abrigava um acervo com mais de 20 milhões de itens, o maior da América Latina, com coleções nas áreas de paleontologia, antropologia e etnologia biológica. Cerca de 1.500 peças foram recuperadas, como o crânio e parte do fêmur de Luzia, possivelmente, o fóssil humano mais antigo das Américas já descoberto, e o meteorito Bendegó, um dos maiores do mundo. Além disso, mais de um milhão de itens havia sido transferido para prédio anexo e foram poupados.
Em abril, peritos da Polícia Federal afirmaram que a causa mais plausível para o incêndio foi uma “gambiarra” no sistema de ar condicionado. Segundo os peritos, um dos três aparelhos que resfriavam o auditório do térreo entrou em pane. Era necessário haver três disjuntores para cada aparelho, mas só havia um; não havia aterramento elétrico; nem equipamentos que poderiam ter debelado as chamas com rapidez ou contido o avanço do fogo, como sprinklers, alarme de incêndio ou porta corta-fogo. Vale lembrar que o combate ao incêndio no Museu Nacional foi prejudicado pela falta de água nos hidrantes mais próximos.
“O caso do Museu Nacional é um alerta para que as políticas públicas sejam realmente aplicadas aos museus. Desde 2009, o Ibram faz um trabalho de prevenção e gerenciamento de riscos nos museus e muitas instituições têm buscado minimizar riscos. Mas há muitos desafios. A aprovação de projetos adequados a edifícios tombados, com acervo, é lenta e complexa. No Fórum de Patrimônio, que realizamos no CAU, começamos a discutir a aprovação, nos órgãos de patrimônio, de projetos de intervenção, para desmitificar essa questão, para que os profissionais saibam que informações são essenciais e como agilizar esse processo”, explicou a conselheira do CAU/RJ e especialista em conservação, Noêmia Barradas.
Outros desafios apontados foram a falta de verbas destinadas ao setor cultural e que, muitas vezes, a prioridade é dada a projetos de reforma de fachadas. “O gerenciamento de riscos mostra o que é mais importante a ser tratado. São ações ‘invisíveis”, mas que garantem que as pessoas frequentem um ambiente em total acordo com as normas”, afirmou.
O fogo não é a única preocupação em relação aos Museus. Há pouco mais de um mês, com as fortes chuvas que atingiram o Rio, o Museu Casa do Pontal, principal acervo de arte popular no país, sofreu a pior inundação de sua história. Os alagamentos afetam a instituição após a construção de um megacondomínio na região. A instituição tenta construir uma nova sede em local cedido pela prefeitura na Barra da Tijuca, mas as obras estão paralisadas há quase dois anos.
Contudo, nem todas as notícias são desanimadoras. Esta semana, o Museu da Maré recebeu a posse definitiva do espaço onde está sediado há 13 anos, no Complexo da Maré. O museu funciona em um galpão que pertencia a uma empresa de navegação. Possui exposições permanentes que retratam aspectos da vida na comunidade e da luta dos moradores por melhores condições de vida, além de exposições temporárias. No momento, está em cartaz mostra sobre a ex-vereadora Marielle Franco, que cresceu na região.
A arquiteta e urbanista, coordenadora do Núcleo de Preservação Arquitetônica do Museu Casa de Rui Barbosa, Cláudia Carvalho demonstra otimismo em relação aos museus. “Minha visão é que nós temos grandes museus no país: museus de arte, museus-casa… Apenas museus-casa, como é a Casa de Rui Barbosa, são mais de 300 inventariados no Brasil. Nosso patrimônio musealizado tem muita importância e tem esse valor reconhecido. Entre as pessoas que trabalham com patrimônio, há muitos profissionais com grande competência e compromisso com a cultura. Além disso, vemos que, pelo menos no eixo Rio-SP-BH, temos conseguido avançar na educação patrimonial, e levar o público a ocupar esses espaços”, observou.
Segundo ela, os arquitetos e urbanistas têm contribuído muito nessa área seja nos trabalhos de restauração, na construção de novos edifícios ou na adaptação dos edifícios. Entre os exemplos, citou a Pinacoteca de São Paulo, o Museu de Arte Sacra na Bahia e o trabalho do arquiteto e urbanista Gustavo Penna em Minas Gerais.
“Acredito que a data é uma oportunidade para pensarmos em como a sociedade pode interagir com os museus. É essa interação que vai trazer a questão da preservação à tona. O Rio de Janeiro tem muitas opções de museus, como o Museu Histórico Nacional, o Museu dos Pretos Novos, centenas de outros. É preciso que a população se aproprie disso”, complementou a Conselheira do CAU/RJ, Noêmia Barradas.
Cariocas, turistas e a população fluminense afim de abraçar a causa de valorização cultural poderão curtir a programação da Semana Nacional de Museus, no Rio, até domingo. O bairro imperial de São Cristóvão recebe a 11ª edição do Circuito de Turismo Cultural. O passeio é gratuito e começa na estação de trem do bairro, às 10h, e segue pelos museus de Astronomia e Ciências Afins, do Samba, Observatório Nacional, Centro Hípico do Exército, Clube de Regatas Vasco da Gama, 1º Batalhão de Guardas, Centro de Abastecimento do Estado da Guanabara (CADEG) e Supremo Conselho do Brasil.
Além disso, instituições de outros bairros do Rio também recebem eventos culturais. A programação completa da 17ª Semana Nacional de Museus está disponível no site.