Destruição do Museu Nacional, tragédia anunciada
CAU/RJ repudia descaso como a cultura fluminense e nacional
3 de setembro de 2018 |
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As chamas que destruíram o Museu Nacional, mais antiga instituição científica brasileira e o museu mais antigo do país, causaram também marcas profundas nos cidadãos brasileiros. Tragédia anunciada, milênios de história agora são cinzas, que se espalharam pelo céu de São Cristóvão na noite de domingo, 2 de setembro. A realidade é dura, mas devemos encará-la: o Brasil é um país em que seus filhos ainda morrem por desnutrição infantil, e os que sobrevivem sofrem sem acesso a saúde e educação e programas de inclusão social. Acrescenta-se agora à lista: sem memória.
Os cortes sistemáticos do orçamento das universidades públicas e a política de desfinanciamento dos centros de pesquisas, ambos sob a batuta do congelamento dos gastos públicos, em especial nas áreas de saúde e educação, foram elementos catalisadores da destruição da nossa história. Enquanto nações desenvolvidas e outras em desenvolvimento investem na preservação da cultura nacional, operadores da política brasileira menosprezam o patrimônio material e imaterial nacional.
Criado por D. João VI, o Museu Nacional completou há pouco, no dia 6 de junho, 200 anos. Tombado pelo patrimônio histórico, o edifício foi residência da família Real e Imperial brasileira. O acervo era composto por cerca de 20 milhões de itens. Entre os destaques estão a coleção egípcia, que começou a ser adquirida pelo imperador Dom Pedro I; o mais antigo fóssil humano já encontrado no país, batizado de “Luzia”, com cerca de 11 mil anos; um diário da Imperatriz Leopoldina; o maior e mais importante acervo indígena e uma das bibliotecas de antropologia mais ricas do país; entre outros.
Ainda está viva a lembrança do incêndio no oitavo andar do prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ no dia 3 de outubro de 2016, que abriga também a Escola de Belas Artes, o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, a Decania do Centro de Letras e Artes, além da própria Reitoria, na Cidade Universitária. Sem estrutura adequada, alunos estão espalhados pelos campus, biblioteca fechada e andares continuam interditados.
Como Conselheiros e Conselheiras do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU/RJ) não podemos deixar de repudiar, veementemente, o descaso como a cultura fluminense e nacional vem sendo tratada. O prejuízo é imensurável e o patrimônio cultural, científico e imaterial brasileiros não podem mais ser tratado como um objeto descartável.