Conferência CAU/RJ de Arquitetos e Urbanistas: sessão debate desafios para a mobilidade e acessibilidade nos centros urbanos
31 de outubro de 2013 |
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Conselheira Dayse Góis ressaltou que a agenda da mobilidade urbana não se limita aos investimentos em transportes (Fernando Alvim/ Divulgação CAU/RJ)
Novas perspectivas para os profissionais da área de arquitetura e urbanismo, decorrentes da Lei de Mobilidade Urbana (12.587/12), que condiciona o acesso a recursos federais por municípios com mais de 20 mil habitantes à implantação de planos de mobilidade. Este foi um dos assuntos abordados na mesa Mobilidade e Acessibilidade, nesta quinta-feira (31/10), durante a Conferência CAU/RJ de Arquitetos e Urbanistas, realizada na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro – Firjan, no Centro do Rio.
Confira como foram as demais mesas da Conferência CAU/RJ:
“Reestruturação urbana e as cidades do futuro”
Sessão promove avaliação crítica sobre o Conselho
“O cenário panamericano das organizações profissionais”
“As lições de Dallas e Medellín”, duas cidades que renasceram através da Arquitetura e do Urbanismo
“A memória das cidades brasileiras sob risco permanente”
A conselheira do CAU/RJ Dayse Góis, moderadora da mesa, ressaltou que a agenda da mobilidade urbana vai muito além dos projetos ligados a investimentos em transportes, pois contempla a integração entre diversas modalidades de locomoção, a modicidade tarifária, o uso inteligente das calçadas, a acessibilidade em locais públicos e privados, entre outros fatores.
“Não podemos esquecer o fato de que a Lei 12.587/12 também abre uma grande porta para os arquitetos com a questão da utilização do solo”, afirmou Dayse.
Clarice Linke, diretora do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento – ITDP, ONG criada em 2007, trouxe à discussão o conceito de mobilidade urbana sustentável e enumerou um conjunto de fatores e medidas importantes para que a situação brasileira comece a mudar, no tocante a este ponto, apontando como base a redução da cultura do automóvel:
- Contenção do espraiamento das cidades e estímulo ao seu adensamento;
- Prioridade ao transporte coletivo em relação ao privado individual;
- Criação de sistemas multimodais integrados;
- Busca de permeabilidade das fachadas e edificações nos espaços urbanos;
- Criação de redes de ciclovias e bicicletários;
- Prioridade para a criação de quarteirões curtos, que facilitem o trânsito a pé;
- Regulamentação dos estacionamentos de automóveis, com o estabelecimento de limite máximo para vagas;
- Regulamentação do uso das vias;
- Prioridade para os modos de transporte não motorizados.
Um dos problemas brasileiros é que o paradigma rodoviarista permanece e os investimentos em transportes públicos ainda são baixos”, opinou Clarice.
Por sua vez, José Lobo, diretor da Transporte Ativo, falou sobre a importância da bicicleta como opção para o problema de mobilidade urbana em todo o mundo, citando exemplos positivos do seu uso em cidades como Nova York, Paris, Copenhagen, Viena, Sidney, entre outras. Lobo fez um histórico do uso da bicicleta, desde os primórdios, quando era meio de locomoção de ricos, até os dias atuais.
“O mundo começa a perceber que os benefícios do uso da bicicleta são incontáveis, sobretudo no tocante às questões de mobilidade, saúde e meio ambiente”, destacou Lobo.
A arquiteta Regina Cohen, pós-doutora em arquitetura e urbanismo e coordenadora do Núcleo Pró-Acesso da UFRJ, encerrou a mesa dando ênfase ao conceito de “desenho universal”, de acordo com o qual locais públicos e privados devem ser projetados não apenas para portadores de deficiências, mas servir para o uso de todos. Regina falou sobre a importância da autonomia nos deslocamentos das pessoas e citou a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiências, da ONU, para dizer que o Brasil ainda deixa a desejar neste tópico, embora tenha havido avanços em nossa legislação.
“Existe no Brasil uma deficiência dos espaços, sejam públicos ou privados. Se a sua concepção começar a ser moldada pelos modernos princípios de mobilidade e acessibilidade, afastaremos várias barreiras e inconveniências. Hoje ainda temos de lidar com calçadas mal feitas, buracos, acessos mal projetados e uma cultura que não facilita a acessibilidade”, disse Regina.