Conferência CAU/RJ de Arquitetos e Urbanistas: a memória das cidades brasileiras sob permanente risco
1 de novembro de 2013 |
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Para os arquitetos e urbanistas, o conceito de patrimônio precisa ser ampliado e revisto
(Fernando Alvim / Divulgação CAU/RJ)
A proverbial dificuldade brasileira em preservar o patrimônio histórico e, ao mesmo tempo, dar-lhe usos contemporâneos que não sejam o de transformá-lo em museus desconectados da dinâmica social ficou patente durante as discussões da mesa “Patrimônio Histórico e Arquitetônico”, nesta sexta-feira (1º/11), durante a Conferência CAU/RJ de Arquitetos e Urbanistas, realizada na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), no Centro do Rio.
Confira como foram as demais mesas da Conferência CAU/RJ:
“Reestruturação urbana e as cidades do futuro”
Sessão promove avaliação crítica sobre o Conselho
“O cenário panamericano das organizações profissionais”
“As lições de Dallas e Medellín”, duas cidades que renasceram através da Arquitetura e do Urbanismo
“Desafios para a mobilidade e acessibilidade nos centros urbanos”
O conselheiro do CAU/RJ Adir Ben Kauss, moderador da sessão, iniciou os trabalhos frisando que a perda da memória brasileira se dá, em grande parte, pelo viés da destruição (ou mal conservação), e que ações de defesa e preservação do patrimônio histórico devem estar na perene pauta do trabalho dos arquitetos e urbanistas.
Flávio de Lemos Carsalade, arquiteto e urbanista, e professor da UFMG, destacou em sua fala que o conceito de patrimônio precisa ser ampliado e revisto no sentido de considerar-se como o conjunto de valores que aproximam as pessoas, ao modo de instrumentos de convivência social. O patrimônio, em sua visão, tem uma função maior do que as atinentes a questões artístico-estilísticas, e deve servir como signo de identidade dos fatos urbanos. “Patrimônio não é museu, apenas. Nem deve servir como motivo para expulsar as populações do seu entorno. Isto é espetacularização”, criticou Carsalade, após enumerar vários desafios a serem vencidos pelas autoridades brasileiras e pelos profissionais ligados à preservação e gestão do patrimônio histórico.
Confira como foram as demais mesas da Conferência CAU/RJ:
“Reestruturação urbana e as cidades do futuro”
Sessão promove avaliação crítica sobre o Conselho
“Desafios para a mobilidade e acessibilidade nos centros urbanos”
“As lições de Dallas e Medellín”, duas cidades que renasceram através da Arquitetura e do Urbanismo
“A memória das cidades brasileiras sob risco permanente”
Por sua vez, Márcia Sant’Anna, professora da faculdade de Arquitetura da UFBA, tomou a cidade de Salvador como emblema da problemática gestão do patrimônio histórico pelas autoridades brasileiras. “O exame das questões é pontual e caso a caso, entre as instâncias municipal, estadual e federal. Falta normatização específica e uma política que impeça projetos imobiliários contrários ou agressivos ao patrimônio histórico, arquitetônico e cultural”, frisou Márcia.
No mesmo tom de Márcia, o presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (Deptº. da Bahia), Nivaldo Vieira de Andrade Júnior, mencionou que hoje em Salvador existem 1.500 imóveis históricos sem qualquer uso, totalmente abandonados. “O tombamento é um instrumento tópico, limitado, para resolver o problema. É preciso usar o IPTU progressivo de forma efetiva, assim como criar fundos públicos com contrapartidas oferecidas pela municipalidade, para evitar situações como esta”, receitou Nivaldo.
A última e mais polêmica palestra da mesa ficou por conta do professor de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFF, Nireu Cavalcanti. Ele criticou duramente a simbiótica atuação de arquitetos e poder público, muitas vezes custosa para o patrimônio histórico. Citou vários casos de demolições de logradouros e edificações importantes e históricas da cidade do Rio de Janeiro (como o Morro do Castelo, o Palácio Monroe e a Igreja de São Pedro dos Clérigos) em eventos nos quais a prefeitura teve o apoio indevido de arquitetos, ou então a sua omissão culposa.
“Essa cultura demolidora contrária à memória continua nos dias de hoje”, asseverou Nireu, que criticou duramente a derrubada do Elevado da Perimetral por razões estéticas em detrimento das questões técnicas ligadas ao trânsito.