Os fundadores do Estúdio Guanabara, Cité Arquitetura e Fábrica Arquitetura compartilharam, na quarta-feira, 13 de junho, no auditório do CAU/RJ, histórias e experiências em gestão negócio com cerca de 130 arquitetos e urbanistas. Encontro discutiu também formas de superar momentos de crise no país, usando criatividade e profissionalismo.

A Conselheira Sandra Sayão, do escritório Arqui Arqui, mediou o debate Arquiteto Empreendedor
O objetivo era mostrar na prática como gestão, associada a criatividade e a visão estratégica, efetivamente são os caminhos para profissionalizar a atividade. Não existe receita de bolo ou fórmula pronta, mas se observa uma linha comum no sucesso desses escritórios, que é a formatação de um modelo empresarial.
As palestras marcaram a assinatura do protocolo de intenções entre o CAU/RJ e o Sebrae/RJ. “Desde a criação do Conselho havia uma forte intenção de desenvolver projetos comuns, mas essa é a primeira vez que consolidamos a parceria”, contou o presidente do CAU/RJ, Jeferson Salazar. O primeiro produto da parceria é o curso Arquiteto Empreendedor, que será realizado na sede da autarquia a partir do dia 18 de julho.
Para o presidente do CAU/RJ é importante neste momento de crise aguda pelo qual o país passa, em que muita gente tem dificuldade para desenvolver o trabalho autônomo, preencher a lacuna que existe no entendimento de como funcionam escritórios/empresas de sucesso. “Nas universidades somos formados para criar. Contudo, falta a formação de gestão de negócios. Vejo como um grande problema da profissão. Muitas vezes, os escritórios pequenos ou profissionais autônomos não sobrevivem por falta de conhecimento da gestão empresarial. Nosso objetivo é preencher essa lacuna e prover subsídios para que os profissionais se preparem para o mercado. Quem é autônomo também precisa saber gerir”, detalhou Jeferson Salazar.

Sandra Sayão, mediadora do debate Arquiteto Empreendedor e o presidente do CAU/RJ, Jeferson Salazar
Marcos Vasconcellos, coordenador do programa de construção civil do Sebrae/RJ, que esteve no evento para assinar o protocolo de intenções com o CAU/RJ, explicou que a missão do Sebrae é promover uma melhoria das competências gerenciais para quem deseja enveredar pelo mundo empresarial. “É importante estreitar a parceria com o CAU/RJ. Consideramos o elo mais forte, que dita a regra da cadeia produtiva da construção civil, que só produzir a partir do que é pensado por arquitetos e urbanistas”, avalia Vasconcellos.
Formação do Arquiteto Empreendedor
Consultor do Sebrae/RJ Frank Jencik detalhou as etapas do curso Arquiteto Empreendedor, que será ministrado na sede do CAU/RJ, a partir de 18 de julho. Segundo o consultor, o programa é constituído por nove módulos, sendo o primeiro referente a legalização, com duração de quatro horas, e vai se discutir quais tipos de empresas e de serviços podem ser desenvolvidos. O segundo módulo abordará o aspecto de tributação. “Ou seja, depois de uma empresa legalmente constituída é preciso avaliar qual é o melhor enquadramento: simples, lucro presumido, lucro real, além de como compor impostos, entre outras questões”, exemplificou Jencik.
O terceiro módulo é o de estratégia empresariais, com 16 horas presenciais e mais 4 horas de consultoria individual. “A intenção é promover uma reflexão sobre os objetivos, metas e plano de ação e tático” diz o consultor.
O quarto módulo de gestão financeira tem oito horas presencias e mais quatro horas de consultoria. Nele o aprendizado é sobre técnica, formatação de relatórios e diversas outras ferramentas para montar uma gestão financeira empresarial eficiente.
O quinto módulo é o de marketing e vendas com seis horas presenciais e quatro de consultoria. Jencik explica que nesta etapa a ideia é aprofunda a discussão sobre o desenho de planejamento mais adequado para vender o serviço ou produto de arquitetura e urbanismo.
No sexto módulo a programação engloba os conceitos básicos de eficiência energética e iluminação, ar-condicionado e toda a sua distribuição. A carga horária é de 12 horas presenciais.
Já o sétimo módulo aborda a formação de preços, num total de oito horas em sala de aula e mais quatro de consultoria. “Aqui avaliamos quanto cobrar pelo serviço, quanto vale a hora e identificar o custo a empresa”, descreveu Jencik.
O oitavo módulo, com seis horas presenciais, é o de negociação. Segundo o consultor, ideia aqui e avaliar as melhores maneiras de discutir com o cliente, como usar melhor as técnicas de negociação e diálogo.
O último módulo, que trata da questão da elaboração de contrato, num total de 8 horas em sala de aula, visa propor um modelo que seja bom para as duas partes, com cláusulas consistentes e seguras.
As inscrições para o curso Arquiteto Empreendedor estão abertas (clique aqui). O investimento no curso do Sebrae RJ é de R$ 1500,00, podendo ser parcelado em até 10 vezes sem juros. Profissionais registrados no CAU/RJ têm 50% de desconto, ou seja, o curso completo sairá por R$ 750,00.
Serão oferecidas três turmas este ano, sendo duas na capital e uma no interior do estado do Rio de Janeiro. As do Rio serão na sede do CAU/ RJ e a do interior na subsede do Sebrae/RJ.
Boas práticas e mão na massa

Luísa Bogossian, sócio-fundadora do Estúdio Guanabara
Luísa Bogossian, arquiteta e urbanista, sócia-fundadora do Estúdio Guanabara, contou sobre a trajetória do escritório, apresentando os principais projetos realizados e falou também como foram as fases de estruturação do negócio. Apesar de bem novo – o escritório foi, oficialmente, criado em 2012 – o embrião surgiu ainda na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, quando o grupo de estudante ganhou concurso de projeto para ocupação na Gamboa. Já no início dos trabalhos como Estúdio Guanabara participaram de projetos como o de um hotel contêineres, entre outros de grande repercussão. Luísa credita o rápido crescimento do escritório a combinação de vários aspectos, mas destaca a questão do pensamento coletivo. O Estúdio Guanabara foi um dos primeiros a integrar o projeto Goma, um laboratório de auto gestão, no qual consolidaram a atual plataforma de trabalho e que também foi um ambiente de prospecção de novos projetos.

Empreendedores Celso Rayol e Fernando Costa durante evento Arquiteto Empreendedor
Os sócios-fundadores do Cité Arquitetura, os arquitetos Celso Rayol e Fernando Costa falaram sobre os desafios enfrentados como empreendedores. Ambos vindos de experiências de anos de atuação em um grande escritório e tinham uma boa bagagem na área administrativa e gerencial quando fundaram a Cité em 2012. O escritório atua em quatro estados e em projetos diversos, sem distinção. Rayol contou que já fizeram de cemitério a interiores residenciais e comercias, passando por projetos do Minha Casa, Minha Vida, entre muitos outros. Na avaliação de Rayol, momentos de crise econômica também podem significar oportunidades para atuação diferenciada. “Por isso é importante entender as demandas, saber quais são os caminhos que o mercado apresenta. Um curso como este do CAU/ RJ e do Sebrae/RJ pode ser uma ferramenta importante para os novos empreendedores da área”, avalia Rayol.

João Calafate durante palestra no evento Arquiteto Empreendedor
João Calafate, sócio do escritório Fábrica Arquitetura e autor de projetos para o Rio Cidade, Favela Bairro, Imperator, entre outros, também dividiu com a plateia a experiência dos 36 anos do seu escritório. Calafate lembrou da ligação direta do surgimento da Fábrica com a Universidade. “O embrião, assim como no caso do Estúdio Guanabara, foi o ambiente acadêmico, com muitos dos sócios fundadores tendo sido professores ou monitores”, recorda. O arquiteto destacou pontos como a necessidade de atuar de forma completa, sem negligenciar, por exemplo, o trabalho de interiores residencial e empresarial, que muitas vezes é o que garante fluxo de caixa para que se possa investir em outros projetos de maior visibilidade. Para Calafate, os arquitetos e urbanistas que desejam empreender devem ter como meta, além da viabilização do próprio escritório, o desenvolvimento de uma cidade melhor. “Precisamos ter uma arquitetura muito melhor do que temos hoje. O pensamento da Fábrica sempre foi este e, por isto, participamos de tantos projetos com esse cunho social e desenvolvimentista”, contou Calafate. Com pensamento coletivo e social e sempre atualizado, a Fábrica sobrevive por tantos anos e ainda vem se perpetuando em outras empresas-filhas, até mesmo em áreas correlatas da arquitetura, são herdeiras principalmente do pensamento empreendedor.