CAU/RJ abre as portas para discutir atuação da mulher no mercado de trabalho
6 de agosto de 2019 |
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A arquiteta e urbanista Maria Lea Russo deu o tom da roda de conversa com mulheres ao falar da premiação recém-lançada pelo CAU/RJ. “O CAU + Mulheres foi criado para que arquitetas e urbanistas apareçam mais. A gente só escuta falar de profissionais homens. Precisamos reverter esse cenário”. O evento reuniu ontem, 5 de agosto, profissionais de várias gerações e de diferentes cidades do Rio na sede do Conselho. Além de discutir a inserção da mulher no mercado da construção civil, representantes da Comissão de Equidade de Gênero do CAU/RJ esclareceram dúvidas sobre o edital da premiação.
Dados do Sistema de Inteligência Geográfica do CAU/BR mostram que dos mais de 170 mil arquitetos e urbanistas registrados no Brasil, 63% são mulheres. A maioria profissional, contudo, não reflete na quantidade de Registro de Responsabilidade Técnica (RRT). A arquiteta e urbanista, integrante da Comissão de Equidade de Gênero do CAU/RJ, Tainá de Paula criticou ainda a baixa representatividade feminina em cargos de poder, seja no mundo acadêmico, na iniciativa privada ou em órgãos públicos.
“Esses dados não refletem a realidade: os maiores escritórios de arquitetura estão no nome de homens. A nossa construção civil ainda sofre com os gargalos da desigualdade. É um ambiente essencialmente misógino. Ver mulheres na sua área de atuação é uma forma de valorizar o trabalho delas”, disse Tainá.
Sônia Lopes, vice-presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA), reforçou o ponto de vista de Tainá: “Nós somos maioria, mas não temos visibilidade. Eu saí da faculdade sem referências femininas porque só tinha trabalhado em escritórios comandados por homens”, contou Sônia. A vice-presidente da AsBEA ainda relembrou o início de sua carreira, quando achava que o preconceito com seu trabalho era relacionado apenas à sua idade. Brincando com os fios grisalhos, ironizou ao dizer que desistiu de pintar os cabelos para ver se, dessa forma, consegue ser mais respeitada.
Por fim, Sônia destacou que as poucas mulheres que atingem posições privilegiadas na carreira, na dúvida de como agir, usam ferramentas masculinas de proteção. “Existem mulheres machistas. Elas têm que se ‘desimpregnar’ desse machismo, ou seja, destacar-se profissionalmente sem violentar a si mesma e as colegas de trabalho. Já é tão difícil chegar ao topo. Temos que ajudar as outras a conseguirem também”, explicou.
Na contramão de um ambiente repleto de homens, na construção civil, Geisa Garibaldi, do Concreto Rosa, contou sua experiência como empreendedora e a importância de unir mulheres em todos os setores da arquitetura e urbanismo. Para ela, as várias profissionais que desistem da carreira, alguma vez, saíram da curva, mas não aguentaram o ambiente. “O Concreto Rosa me proporcionou estar em posições que nunca imaginei estar. Apesar disso, a gente ainda enfrenta machismo e racismo todos os dias. É por isso que nós, mulheres, temos que nos unir, acolher e apoiar”, disse Geisa.
CAU+Mulheres
O CAU/RJ lançou, no dia 25 de julho, a Premiação CAU+Mulheres. O edital, inédito, foi elaborado pela Comissão Temporária de Equidade de Gênero do conselho. As categorias da seleção são: projeto arquitetônico; projeto de arquitetura de interiores; projeto urbanístico; e estudo teórico (teses, dissertações, livros e publicações). Ao todo, serão distribuídos R$34.800 em prêmios. As inscrições e mais informações sobre o edital estão disponíveis no site: even3.com.br/caumaismulheres