Washington Fajardo: Arquitetura que dá esperança
19 de dezembro de 2017 |
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* Por Washington Fajardo

Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ (Crédito: Washington Fajardo)
O edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da UFRJ, erroneamente chamado de Prédio da Reitoria, luta para continuar a existir e a fazer sentido. Em 3 de outubro de 2016 sofreu incêndio no 8º andar. Conforme veiculado na imprensa, a origem do sinistro foi na sala 827, que pertencia à Pró-Reitoria de Gestão e Governança. Em novembro do mesmo ano, o bloco onde ficava a biblioteca da FAU foi inundado. Desde então não houve obra de recuperação.
Projetado por Jorge Machado Moreira e Aldary Toledo, mais equipe de 18 colaboradores, com paisagismo de Burle Marx, murais desse e de Anísio Medeiros, premiado na IV Bienal Internacional de São Paulo em 1957, foi concluído em 1961.
A sóbria e corbusiana arquitetura era a joia da coroa do Plano Urbano da Universidade do Brasil, que, em 1948, deu início ao aterro que uniria oito ilhotas, criando uma Cidade Universitária na Baía de Guanabara, próxima a Manguinhos. Baiacu, Bom Jesus, Cabras, Catalão, Pindaí do Ferreira, Pindaí do França, Sapucaia e Fundão eram as ilhas do arquipélago. O nome da última batizaria o complexo. Um apelido bem carioca para mais de cinco milhões de metros quadrados organizados sob preceitos do urbanismo funcionalista, concentrando funções educacionais, residenciais e administrativas em um área territorialmente isolada, retirando-as da confusão da cidade tradicional. Medalha de Ouro na Exposição Internacional de Bruxelas em 1958, o Brasil, representado pelo Rio, apresentava frescor, rigor técnico e intelectual ao mundo do pós-guerra e dava esperança sobre um novo tipo de cidade ocidental.
Se errou muito o urbanismo modernista, mesmo cedendo espaço à Escola de Belas Artes e à Reitoria, o prédio da FAU é um dos mais bem acabados exemplares do racionalismo brasileiro, justificando-se seu tombamento municipal em 2016.
O incêndio por pouco não atingiu o acervo do Museu Dom João VI, localizado justo um andar abaixo, no 7º, isolado até hoje, assim como o 6º e o 5º. Felizmente esses três pavimentos não sofreram danos, mas o rearranjo do fornecimento elétrico só permitiu o funcionamento até o 4º andar.
Artigo originalmente publicado pelo O Globo, no sábado, 16 de dezembro. Clique aqui para ler o texto na íntegra.