O segundo dia do V Fórum do Conselho Internacional de Arquitetos de Língua Portuguesa (Cialp) fez jus ao tema do Congresso da UIA, que acontecerá no Rio em 2020: “Todos os mundos, um só mundo”. Ao reunir arquitetos e urbanistas de diferentes pontos do globo, foi possível identificar semelhanças entre as cidades lusófonas que ultrapassam as heranças da colonização portuguesa. Nesta quinta-feira (25), seis arquitetos apresentaram suas cidades e compartilharam alguns desafios urbanos que cada uma delas enfrenta.
O Fórum começou com o anúncio da eleição para o novo presidente do Cialp. O arquiteto de Macau Rui Leão substituirá o português João Rodeia no posto. “Rodeia fez dois mandatos fantásticos. A Cialp é hoje uma instituição muito mais sólida, com um projeto que parece possível de alcançar”, afirmou o presidente recém-eleito.
Após a posse, o arquiteto João Santa Rita abriu as exposições sobre as cidades falando de Lisboa. Ele apresentou algumas características geográficas da cidade situada no estuário do Rio Tejo e enumerou alguns pontos que a capital portuguesa tenta superar: “Lisboa é uma cidade que preserva seu passado e se estruturou ao longo das décadas, mas precisa integrar o centro e a zona portuária a outras áreas da cidade”.
Partindo de Portugal para Angola, o arquiteto Manuel Elias de Carvalho trouxe o exemplo da província de Luanda, que, após o período de guerras, apresentou grande explosão demográfica, sendo 40% da população menor de 15 anos. “O rápido crescimento populacional tornou a infraestrutura existente insuficiente e gerou um déficit habitacional. O país teve que criar instrumentos urbanísticos para regulamentar a ocupação do espaço como lei de terras, planos territoriais urbanos e rurais, regulações para licenciamentos etc”. O arquiteto citou ainda alguns projetos que estão em andamento para a requalificação da cidade, como os das encostas em Miramar e Boavista e a construção de residências em Kilamba e Sequele.
O arquiteto Nivaldo Andrade ficou com a incumbência de falar sobre Salvador, na Bahia. “A primeira capital brasileira guarda grandes semelhanças geográficas em relação à Lisboa. Salvador também é dividida entre Cidade Alta, com funções administrativas, e a cidade Baixa, que se desenvolveu ao longo da região portuária”. O arquiteto explicou que o crescimento populacional entre as décadas de 60 e 90 fez com que a cidade se expandisse em direção ao interior. “Hoje há pouquíssimos espaços desabitados. Eles estão, sobretudo, ao redor da Avenida Paralela, mas são áreas de preservação ambiental”, explicou.
Em relação à mobilidade, Andrade lembrou que Salvador possui uma das menores linhas de metrô do mundo e citou outros problemas da capital baiana como a degradação e o abandono de prédios históricos. Ele lembrou que a recuperação do Pelourinho na década de 90 provocou a expulsão de 3 mil famílias da área. “O problema é que os moradores dependiam dessa centralidade para sobreviver e isso levou à ocupação da periferia da área recuperada. As famílias passaram a morar na encosta que separa as Cidades Alta e Baixa”, lamentou.
Além de Salvador, outra representativa cidade brasileira foi abordada no Fórum do Cialp. O arquiteto Cláudio Queiroz apresentou Brasília, mostrando a influência da cultura indígena em seu traçado e apresentando diversos detalhes dos projetos de Lúcio Costa. “Brasília foi uma cidade que levou 200 anos para ser desenvolvida”, afirmou Queiroz.
O novo presidente do Cialp, Rui Leão, também apresentou uma pequena palestra sobre sua cidade, Macau, apontando características típicas da influência portuguesa como a organização da cidade a partir da Rua Direita. Macau é uma Região Administrativa Especial (RAE) no delta do Rio das Pérolas, onde forma ao lado de Hong Kong, outra ERA, e nove províncias uma conurbação de 60 milhões de habitantes. A influência chinesa no país se torna evidente com a presença de grandes projetos, como uma ponte que ligará Hong Kong, Macau e Zhuhai, dando acesso ao aeroporto.
A última cidade apresentada foi Mindelo, localizada na Ilha de São Vicente, em Cabo Verde. Com apenas 80 mil habitantes, o município é o segundo maior do país e sua capital cultural. Segundo o arquiteto César Freitas, da Ordem de Arquitetos de Cabo Verde, alguns dos problemas enfrentados são a perda de vitalidade do núcleo histórico, a ocupação das encostas e a falta de integração entre os bairros.
Após as exposições, as arquitetas e urbanistas Margareth Pereira e Angelica Alvim participaram de uma mesa redonda ao lado do presidente do CAU/RJ, Jerônimo de Moraes. “Percebi o grande desafio que será organizar o Congresso da UIA Rio 2020. Como comparar cidades de diferentes escalas com o próprio Rio de Janeiro de forma a colaborar para o perfil do arquiteto e urbanista do século XXI?”, questionou Margareth Pereira. Para ela, há uma vinculação extrema com a questão urbana em todas as apresentações. “Nós arquitetos e urbanistas precisamos pensar menos no protagonismo dos edifícios e mais no papel das cidades sobre as dinâmicas sociais, econômicas e culturais”.
A arquiteta Angelica Alvim identificou elementos importantes comuns a todas as palestras. “A relação entre a arquitetura e a cidade se mostrou um elemento estratégico. Além disso, observei a importância do sítio e da relação com os eixos de penetração do sistema viário. Outras questões são a rápida urbanização que as cidades têm vivenciado e a articulação das regiões metropolitanas, que carecem de um planejamento integrado”, apontou. “A cidade do século XXI é a cidade de todos. É essa cidade que deve estar na base das discussões do Congresso”.
Texto: Assessoria de Comunicação do CAU/RJ