Arquitetos e urbanistas são alvo do golpe do emprego falso
5 de fevereiro de 2021 |
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“Olá, você foi selecionado(a) para uma vaga de gerenciamento de obras. O salário é de um pouco mais de R$ 8 mil para acompanhar execução de projetos para a Marinha”. A proposta de emprego é apenas isca para enganar arquitetos e urbanistas em busca de uma recolocação no mercado de trabalho. Nas últimas semanas, o setor de atendimento do CAU/RJ recebeu vários relatos de profissionais que foram vítimas ou abordados por golpistas.
A prática é quase sempre igual. O arquiteto(a) e urbanista é contatado por mensagem de WhatsApp ou mesmo ligação. O criminoso se apresenta como engenheiro de alguma empresa real, normalmente bem conceituada no mercado, e que recebeu o currículo através de um site de recrutamento. Falam sobre a oportunidade e emendam: “para ocupar a vaga, precisa preencher os pré-requisitos”. Os criminosos informam que a Marinha exige certificados de NR 33 e 35 (normas relacionadas a medidas de proteção para trabalho confinados e em altura, respectivamente). O golpe acontece quando a vítima diz não ter as certificações. Os criminosos indicam instituição de ensino parceira, que estaria disposta a emitir os documentos de forma rápida para o preenchimento imediato da vaga. Tudo mediante pagamento, claro.
Segundo a arquiteta e urbanista Clara Lisboa (o nome foi alterado para preservar a identidade da profissional), os criminosos são bastante convincentes, têm urgência para “efetivar a contratação” e, por pouco, não caiu no golpe. “Fui contatada pelo WhatsApp. O engenheiro disse ter obtido meus dados a partir de candidatura a vaga de arquitetura no site Recruta Simples. Apesar de a vaga apresentada não se encaixar no meu perfil (docência), ouvi a proposta. Ele forneceu o nome da empresa, disse que fornecia execuções de projetos para a Marinha, que a vaga era para fiscalização de obras, mas que precisava preencher os pré-requisitos para efetivar a contratação”, explicou. Os criminosos disseram que a contratação aconteceria no dia seguinte ao contato, que Clara deveria comparecer na sede da Marinha, na Praça Mauá, às 7h30, com toda a documentação. “A velocidade com que queriam fechar a contratação e a ausência de uma entrevista prévia chamaram minha atenção. Ao questionar, o golpista disse que a entrevista seria feita na sede da Marinha, quando apresentariam também maquete do projeto. A pressão para fechar com a escola para obter as NR 33 e 35 foi também grande. Além disso, o engenheiro não apresentava linguajar corporativo. Sempre se comunicava com mensagens de áudio”.
A oportunidade atraente, a pressa para efetivar a contratação e a pressão por emitir as certificações necessários em instituição de ensino indicada pelo criminoso fizeram Tânia buscar informações do engenheiro no CREA e da própria empresa. “Não encontrei informação alguma do engenheiro no CREA. Achei, na internet, informações da empresa, cuja sede fica em São Paulo. No site, havia um número para contatos de emergência. Apesar do horário, eram 21h, liguei. Para minha sorte, fui atendida pelo dono da empresa. Ele me explicou que o engenheiro que entrou em contato comigo não faz parte do quadro de funcionários da empresa, que não havia vaga alguma a ser preenchida e que não prestavam serviço para a Marinha”, disse.
No portal ReclameAQUI, há 15 reclamações dessa tentativa de golpe contra profissionais não apenas do estado do Rio de Janeiro. Há vítimas de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, entre outros estados. A prática é a mesma e, em todos esses casos, os criminosos dizem ter obtido os contatos dos arquitetos e urbanistas através do site Recruta Simples.
CAU/RJ informa MPRJ sobre golpe contra arquitetos e urbanistas
Diante dos inúmeros relatos de tentativas de golpe contra arquitetos e urbanistas, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro vai informar ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) sobre o caso. O CAU/RJ orienta ainda a todos os profissionais que foram vítimas a realizarem boletim de ocorrência na delegacia mais próxima de sua residência.
Os arquitetos e urbanistas devem ficar atentos aos contatos de pseudo-recrutadores. Além da vaga para a Marinha, com a exigência das certificações NR 33 e 35, há variantes do golpe. Em alguns casos, os criminosos oferecem oportunidades fora do país e apresentam facilidade para obter visto de forma mais célere.