Arquiteto grego Stavros Stavrides fala sobre espaços compartilhados no CAU/RJ
29 de junho de 2018 |
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O arquiteto grego e professor da Universidade Técnica nacional de Atenas Stavros Stavrides apresentou na quinta-feira, 28 de junho, palestra “Práticas arquitetônicas para promoção do compartilhamento de espaços culturais” na sede do CAU/RJ. Atividade, que integrou a programação do Fórum de Presidentes do CAU, contou com a parceria do Laboratório Estado, Trabalho, Território e Natureza (Ettern) do IPPUR/UFRJ.
“Brasil e Grécia vivem problemas semelhantes do ponto de vista social, econômico e político, que nos permitem fazer raciocínios comuns”, afirmou o arquiteto e urbanista Demetre Anastassakis, que gentilmente assumiu a responsabilidade da tradução do evento. O coordenador do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, Carlos Vainer, destacou a oportunidade de diálogo. “Estamos muito acostumados a conversar com arquitetos italianos, ingleses, franceses. É importante conhecer as experiências de outros países. Espero que este evento seja o começo de uma colaboração mais intensa do Fórum com o Conselho”, avaliou.
Stavros Stavrides veio ao Brasil para participar de palestra promovida pelo ETTERN e pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ). No CAU/RJ, ele falou sobre a criação de espaços compartilhados e apresentou alguns exemplos de práticas construtivas baseadas na colaboração e experiências coletivas. “O espaço comum se desenvolve a partir dos processos de compartilhamento. A pergunta então é: se as pessoas estão buscando compartilhar, qual papel nós arquitetos temos nesse processo? ”, questionou.
O professor citou práticas de mutirão no Brasil e de Ubuntu na África. Apresentou também exemplos de construções coletivas na Grécia e no México, onde atuou com seus alunos de graduação. Stavrides destacou a importância da participação dos moradores na elaboração dos projetos e afirmou que sempre havia reuniões para que fosse possível descobrir valores, necessidades e demandas das pessoas que vivem no local. No exemplo grego, uma área ocupada por imigrantes asiáticos, o grupo realizou intervenções em um espaço destinado a estacionamento. “O espaço pôde ser reapropriado para atender às necessidades, com soluções diversificadas”, explicou.

Presidente do CAU/RJ, Jeferson Salazar (esq), Demetre Anastassakis (centro) e Stavros Stavrides (dir)
“É muito importante considerar o dinamismo e a capacidade dos espaços. Algo que existe porque é habitável, usável. Um dançarino se apropria e descobre a riqueza do espaço dançando. A ocupação do espaço pela comunidade destaca o potencial da área para abrigar diversas atividades culturais e sociais. Se nós queremos pensar sociedades diferentes, temos que pensar espaços onde vão se manifestar essas novas formas de sociedade. O espaço comum não preexiste sem a vivência experimental de quem o ocupa”, declarou o arquiteto.
Outro exemplo que despertou interesse foi uma habitação coletiva no México. Stavrides explicou que uma antiga ocupação foi qualificada dando origem a um espaço autogestionado, com propriedade coletiva. “No Rio de janeiro, o único exemplo que temos de propriedade coletiva é a comunidade Shangri-lá. A partir da organização de movimentos sociais e populares foi possível construir uma vila, que até hoje não consegue a regularização fundiária”, lamentou o presidente do CAU/RJ, Jeferson Salazar.
“Temos muito o que aprender com as coisas que já acontecem no mundo. No exemplo do México, só conseguiram empréstimo para o coletivo. Isso obrigou os moradores a criar um espaço de relações coletivas para decidir as coisas porque eram coproprietários. A prática se consolidou como instrumento de luta em defesa da propriedade coletiva. A relação das pessoas com o espaço dá força e a coletivização se dá a partir dos trabalhos das pessoas. As leis mudam com lutas”, afirmou Stavrides.