A história de uma cidade pode ser contada por sua arquitetura. E quanta história o Rio de Janeiro tem para contar. De 1565, data da fundação, aos dias de hoje, suas construções refletem não apenas a passagem do tempo e o surgimento de uma escola carioca de arquitetura, mas também o processo de desenvolvimento, expansão e urbanização da cidade. Tudo isso está reunido no Guia da Arquitetura do Rio de Janeiro, da editora Bazar do Tempo, que mapeia (em mais de 700 verbetes de edificações, inúmeros mapas e 400 fotos) a história da construção – literal e culturalmente – do Rio de Janeiro. O projeto tem patrocínio da prefeitura do Rio de Janeiro, por meio do Programa de Fomento à Cultura Carioca, da Secretaria Municipal de Cultura. O lançamento será dia 3 de agosto, a partir das 19h, na livraria Travessa Leblon (Av. Afrânio de Melo Franco, 290 – loja 205 A).
O livro pode ser utilizado como seu nome sugere: um guia que convida a percursos de visitação, com dados detalhados sobre cada um dos imóveis e outros bens abordados, permitindo um conhecimento in loco do rico patrimônio arquitetônico da cidade. O Guia serve ainda como verdadeira aula sobre a formação e desenvolvimento da arquitetura no Rio de Janeiro, desde seu marco zero – o Centro antigo –, ao último refúgio de sua expansão atual, a Zona Oeste. Destacando ainda as regiões que se renovam, como a Zona Portuária onde, em pouco mais de 3,5 km da nova orla do Porto, há construções que cobrem o período de 1600 (como o atual Museu Histórico Nacional, que abrigava prédios militares como o Forte de São Tiago da Misericórdia, de 1603) até 2016, como o Museu do Amanhã. Com leitura fácil e ricamente ilustrado, o Guia da Arquitetura do Rio de Janeiro pode ser também um delicioso livro de história.
A elaboração coube a um conselho de conteúdo formado por Farès El-Dahdah, professor e diretor do Humanities Research Center da Rice University, em Houston; Gustavo Rocha Peixoto, professor titular da UFRJ e especialista em arquitetura do Império; Marcos Moraes de Sá, arquiteto e especialista em arquitetura colonial; Carlos Eduardo Comas, arquiteto e professor titular da UFRGS; Mozart Vitor Serra, economista e urbanista; Cláudia Carvalho, arquiteta-chefe da Casa de Rui Barbosa, e Cláudia Brack, arquiteta e urbanista e gerente de Paisagismo da Fundação Parques e Jardins. A coordenação de conteúdo é de Maria Helena Salomom, arquiteta da prefeitura do Rio de Janeiro.
Dividido em 27 regiões, os capítulos – ou áreas de visitação – seguem o caminho de expansão da cidade. “Partimos do ponto onde a cidade nasceu e procuramos acompanhar o seu desenvolvimento. Ou seja: para onde ela foi crescendo, nós fomos acompanhando”, conta a editora Ana Cecilia Impellizieri Martins, da Bazar do Tempo. Na abertura de cada região, um texto introduz o leitor ao seu destino, contando um pouco da história e do processo de urbanização do lugar. Ao lado, um mapa localiza todos os imóveis descritos, assinalados por números.
Cada um dos cerca de 700 verbetes apresenta ficha técnica, informando seu endereço, data de construção e de reformas, nome dos arquitetos responsáveis, se o imóvel é tombado ou não. Pequenos textos descritivos sublinham as características principais dos imóveis. As edificações mais importantes ganham destaque no seu tamanho e cor. O Guia é ilustrado por 400 fotografias, a maioria de Cesar Barreto, além de fotos de Américo Vermelho, de acervos históricos e de outros colaboradores.
Dois textos de maior fôlego abrem a edição. O primeiro deles, Breve história da evolução urbana da cidade do Rio de Janeiro, é assinado pelo urbanista e economista Mozart Vitor Serra, em que apresenta a história da urbanização da cidade – de cidade colonial ao Rio do século XXI –, contando com uma série de mapas, como o que mostra a planta da cidade com suas fortificações, de 1713, de João Massé; ou a planta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, de 1812, de A. dos Reis e Paulo dos Santos Ferreira Souto.
Já o texto Arquitetura do Rio de Janeiro: um percurso histórico, do arquiteto Marcos Moraes de Sá, fala da produção arquitetônica da cidade ao longo do tempo, mostrando as características das edificações e situando os diversos estilos da arquitetura brasileira (e de suas influências) em cada período histórico.
Ao longo de todo o livro, alguns ícones da arquitetura carioca ganham maior destaque e têm textos assinados por especialistas: a Igreja e o Mosteiro de São Bento, por exemplo, são apresentados por Gustavo Rocha Peixoto; o Palácio Gustavo Capanema é analisado por Farès El-Dahdah; já o Parque do Flamengo tem sua história recuperada em texto de Carlos Eduardo Comas. Há ainda um ensaio sobre as favelas assinado pelo arquiteto e professor titular da UFRJ Flávio Ferreira, em que ele analisa, citando vários pontos de vista, este tipo de conglomerado habitacional que se tornou parte não apenas da urbanização, mas também da cultura da cidade. Um ensaio final sobre a região portuária e seu intenso processo de renovação leva a assinatura do arquiteto e urbanista Augusto Ivan Freitas Pinheiro, ex-secretário de Urbanismo do Rio e, entre outros cargos, ocupou o de Coordenador do Projeto do Corredor Cultural (de Preservação e Revitalização do Centro do Rio).
O Guia de Arquitetura tem duas edições: uma em português e outra em inglês. Traz como complementação um glossário, rica bibliografia e dois índices: por arquiteto e por tipo de imóvel.
Fonte: Angela Falcão Comunicação