Pioneira na Arquitetura Paisagística no Brasil, Rosa Grena Kliass receberá uma homenagem especial de São Paulo, cidade onde ela se formou, desenvolveu sua carreira e foram implantados alguns de seus principais projetos. Na próxima quinta-feira, dia 09/06, às 19h30, no Palácio Anchieta, sede da Câmara Municipal, a arquiteta será agraciada com o título de “Cidadã Paulistana”.
Natural de São Roque, estância turística localizada a 60 quilômetros da capital paulista, ela segue em plena atividade aos 83 anos de idade, criando projetos só ou em parceria com alguns discípulos.
Entre inúmeras obras, Rosa Kliass destaca-se pelos projetos paisagísticos para a Avenida Paulista (1973), a revitalização do Vale do Anhangabaú (1981), ambos em São Paulo; o Parque do Abaeté, em Salvador; e mais recentemente, pelas obras em grande escala para os Estados do Amapá (Parque do Forte) e do Pará (Mangal das Garças), no início dos anos 2000.
Ainda em São Paulo, desenvolveu o projeto de paisagismo do Parque da Juventude, fruto de concurso ganho pelo escritório Aflalo & Gasperini para urbanização da área ocupada pela antiga Casa de Detenção do Carandiru, na zona norte da cidade. Inaugurado em 2003 e concluído em 2007, o projeto foi premiado pela Bienal de Arquitetura de Quito em 2004, uma das muitas premiações de sua carreira.
Paralelamente à sua trajetória profissional, Rosa Kliass militou pelo reconhecimento no país da “arquitetura da Paisagem”, como ela gosta de mencionar, tendo sido a criadora e primeira presidente da Abap (Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas), entre 1976 e 1980. Hoje, ela acredita que o reconhecimento já existe e agora o foco principal deve ser o investimento na preparação dos novos profissionais.
O CAU/BR associa-se à homenagem prestada por São Paulo com a publicação em seu site de um material especial sobre a carreira e a obra de Rosa Kliass, “a grande dama da Arquitetura Paisagística brasileira”, como a define Haroldo Pinheiro, presidente do CAU/BR.
Além desse texto, compõem a homenagem:
Rosa Kliass: uma aula magna no cerrado
Entrevista exclusiva de Rosa Kliass para o portal Arquitetura para Todos
OS DOIS ROBERTOS – Rosa Kliass afirma que sua vocação foi obra de “um encontro no último minuto e de um amor à primeira vista”. Ela ingressou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP em 1951, quando a escola tinha apenas alguns anos de existência e ainda estava se estruturando. Segundo o professor Luís Inácio de Anhaia Melo, seu fundador e primeiro diretor, não se poderia formar um grupo de profissionais na escola de arquitetura e urbanismo sem o paisagismo. O professor Vilanova Artigas soube, então, da presença de um arquiteto paisagista norte-americano, de origem portuguesa, no Brasil. Era o Roberto Coelho Cardozo, que vinha de Berkeley e estava trabalhando com Burle Marx. Convidado, ele aceitou assumir a cadeira Paisagismo da faculdade.
“Eu a Miranda Magnoli fomos alunas dele e imediatamente entendemos que aquilo era a nossa missão”, contou Rosa Kliass em entrevista concedida ao CAU/BR em 2014. “Eu e ela somos os primeiros “produtos” de Coelho Cardozo. Sempre digo que a arquitetura paisagística brasileira contemporânea surgiu graças a dois Robertos de formação bem diferentes. Um, Coelho Cardozo, trouxe para o Brasil a experiência californiana, muito ligada à cidade. O outro tinha como características principais o desenho, que era importantíssimo, e a vegetação nativa. Burle Marx não tinha diploma, nem de agrônomo nem de arquiteto, mas foi o maior arquiteto paisagista do século, no mundo. Da mistura dessas duas concepções saiu a arquitetura paisagística brasileira”, contou à revista aU em 2012.
SÍNDROME DE DEUS – Rosa Kliass também trabalhou no desenvolvimento de vários dos primeiros planos diretores das cidades brasileiras, na década de 1960, a começar por Curitiba, a convite de Jorge Wilheim. Na administração Faria Lima, na mesma década, ao ser chamada para desenvolver o projeto do Parque do Morumbi, junto com Miranda Magnoli, ela convenceu o prefeito a criar o Departamento de Parques e Áreas Verdes da Prefeitura de São Paulo. Depois do parque, elas desenvolveram o projeto de 44 praças. Nem todas vingaram, mas duas delas marcam a paisagem da cidade: a Benedito Calixto e a Praça do Pôr do Sol.
Rosa Kliass foi vice-presidente da Região Ocidental (Américas) da IFLA (Federação Internacional de Arquitetos Paisagistas). Hoje é conselheira suplente do CAU/SP. “A colega Rosa Kliass é um dos nomes mais importantes da arquitetura paisagística mundial e brasileira. Sua contribuição a essa área não se restringe somente a excelente qualidade de seus projetos, mas também a uma dedicada contribuição aos órgãos profissionais, tendo sido uma das fundadoras da ABAP – Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas, e da IFLA – Federação Internacional de Arquitetos Paisagistas. O CAUSP se sente honrado em te-la, nesta gestão, como conselheira suplente”, afirma o Presidente do CAU/SP, Gilberto Belleza.
Além da ABAP, ela foi a criadora do Encontro Nacional de Professores de Paisagismo nas Escolas de Arquitetura. “Já temos vários cursos de Paisagismo em nível de pós-graduação e temos arquitetos urbanistas com especialização em Paisagismo. O que precisamos agora é de arquitetos paisagistas, uma graduação que não existe no Brasil, mas que já existe no mundo todo”.
Mas o que é, afinal, a Arquitetura da Paisagem ?, foi a pergunta que a revista aU lhe fez em entrevista publicada em 2012. Com o simpático sorriso e didática que a caracterizam, Rosa Kliass respondeu: “Existem três atividades profissionais distintas e fortemente inter-relacionadas que trabalham o desenho do espaço: o urbanismo, a arquitetura e a arquitetura da paisagem. Quando se fala em urbanismo, fala-se de grandes escalas, de organizações complexas, de cidades, rodovias. A arquitetura é, obviamente, o edifício. E a arquitetura paisagística é o desenho do vazio. Digo que o arquiteto paisagista tem síndrome de Deus, porque cria lugares, cria paisagens”.
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Rosa Kliass: uma aula magna no cerrado
Entrevista exclusiva de Rosa Kliass para o portal Arquitetura para Todos
Fonte: CAU/BR
