Arquitetos e urbanistas, representantes de associações de moradores e estudantes marcaram presença no primeiro dia do 4º Encontro com a Sociedade, organizado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Estado do Rio de Janeiro (CAU/RJ), nesta terça-feira (3), no Auditório da Universidade Santa Úrsula (USU). O próximo evento será no dia 18 de novembro, na sede do IAB-RJ, e terá como tema o Plano de desenvolvimento urbano metropolitano (Veja aqui a programação completa).
As diversas faces da crise brasileira e a contribuição da política urbana nas questões enfrentadas pelas grandes aglomerações foram o tema da palestra e debate do sociólogo e professor titular do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ Carlos Bernardo Vainer e da Presidente da Federação das Associações de Moradores do Município do Rio de Janeiro (FAM-Rio) e professora livre docente de Direito Administrativo da UERJ, Sônia Rabello de Castro, com participação da plateia, nesta terça-feira.
Na abertura do Encontro, o presidente do CAU/RJ, Jerônimo de Moraes, afirmou que é obrigação do Conselho trabalhar junto com sociedade civil, entidades e universidades. “O CAU/RJ não será um órgão afastado de sua categoria e dos movimentos sociais. Nós, arquitetos e urbanistas, somos construtores da cidade onde todos vivem”, acrescentou. Ele agradeceu à Universidade Santa Úrsula pela cessão do espaço para a realização do evento e lembrou tratar de uma casa que formou importantes nomes da arquitetura e que vem renovando o ensino da Arquitetura e Urbanismo.
Para o diretor da Abea, Carlos Eduardo Nunes-Ferreira, que também compôs a mesa, o ciclo de palestras e debates permite ouvir o que a sociedade espera que seja ensinado aos arquitetos e urbanistas do futuro. Já Malu França, integrante da Federação Nacional de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo, afirmou que é realmente preciso levar os debates com a sociedade, que, muitas vezes, estão longe do que é aprendido em sala de aula, para dentro da universidade.
“O momento de pensar a crise também é para refletir sobre a cidade. Portanto, estamos no caminho certo”, disse a coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da USU, Iazana Guizzo, que também integrou a mesa de abertura, sobre o tema proposto para o primeiro dia: As grandes aglomerações e o papel da política urbana na superação da crise brasileira.
Cultura de planejamento urbano e utopias
A professora Sônia Rabello deu início às palestras da noite contando sua experiência à frente da FAM-Rio. “A suposta participação da sociedade no planejamento urbano é um discurso constante desde a Constituição de 88. E esses discursos constantes parecem que nos satisfazem. O que a gente sente e vê é uma absoluta impotência em relação a obter um canal de diálogo com os poderes Executivo e Legislativo”, sustentou, afirmando que mesmo as associações de moradores não são ouvidas em momentos de transformação urbana.
Para a presidente da FAM-Rio, existe uma crise ligada à construção de cultura social, à disseminação de conhecimento. “Falta uma cultura social que ultrapasse pequenos grupos de planejamento urbano”, analisa ela, citando exemplos de mecanismos judiciais que permitem maior participação da sociedade, como as ações civis públicas. “Lei nós temos, mas temos uma grande missão de construir uma cultura na sociedade de reivindicar um planejamento urbano mais eficiente”.
O sociólogo Carlos Vainer abordou a crise das utopias. Ele citou o filósofo Ernst Cassirer ao afirmar que o ser humano é o único animal que pensa no futuro não como um presente contínuo, mas como uma possibilidade diferente da realidade atual, o que remete à ideia de projeto. Segundo o professor do IPPUR, existem várias linhas de pensamento que tratam da utopia urbana, seja buscando uma cidade igualitária, seja por uma ideia totalitária, de uma cidade silenciada.
Vainer questiona que utopia fundamenta a cidade contemporânea. Para ele, é a utopia da cidade empresa, em que as cidades deixam de seguir regras e processos democráticos para ser competitiva. Nesse sentido, as políticas urbanas também seriam responsáveis pela crise das grandes aglomerações. Ele lembrou a definição de cidade da Escola de Sociologia de Chicago, que define os espaços urbanos como um aglomerado denso e heterogêneo. O que estamos vivenciando, segundo Carlos Vainer, é a destruição das cidades. O professor, no entanto, mostrou-se otimista com o futuro e apontou movimentos de contra-utopia que se multiplicam pelas cidades e buscam novas formas de ocupação do espaço público e de representatividade.
Após as palestras o moderador da mesa, o Coordenador da Comissão de Ensino e Formação, Conselheiro Leonardo Mesentier, ressaltou a qualificação dos professores e a importância de discutir a crise brasileira além de seu aspecto financeiro. “A cidade é um elemento central onde se pode buscar um caminho para vencer a crise”, acrescentou ele.
Promovido anualmente pelo CAU/RJ, os Encontros com a Sociedade discutem o papel social da Arquitetura e do Urbanismo, além de aproximar os profissionais das demandas da sociedade e debater como aprimorar a atuação do Conselho no Estado.
O segundo dia de evento será em 18/11 no IAB-RJ, das 18h às 21h, na Rua do Pinheiro 10, Flamengo, como o tema planejamento urbano. Em 24/11, o Encontro com a Sociedade vai acontecer na Câmara de Dirigentes Lojistas de Niterói, na Rua General Andrade Neves 31, Centro, em dois horários (das 16h às 18h e das 18h30 às 21h), com os temas: Assistência Técnica em Arquitetura e Urbanismo: Minha Casa Minha Vida – Entidades e Boa Práticas. O último dia, 1º/12, será na Seaerj, na Rua do Russel 1, Glória, tendo a Ética, sociedade e atuação profissional como temas.